sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A pessoa que eu não quero ser



Sou uma pessoa muito focada em mim, não por egoísmo, mas pela busca constante e incansável de me tornar sempre uma pessoa melhor. Nessa linha de raciocínio, hoje quero destrinchar a pessoa que eu definitivamente NÃO quero ser.

A pessoa que não quero ser é vil, no sentido mais fiel da palavra. Uma pessoa sem valor moral, mesquinha, suja, que usa de qualquer artimanha para se conseguir o que quer.

A pessoa que eu não quero ser não se assume tal como é, tem múltiplas personalidades, se tornando sempre a pessoa ideal para o momento e a pessoa que se quer enganar, manipular. 

A pessoa que eu não quero ser sofre porque vive a vida do outro e não se dá conta da própria vida, do valor que ela tem e da grande dádiva que sua vida é. Ou até se dá conta, mas sempre a vê pequena, sem graça, sem futuro. A vida do outro é sempre mais bonita.

A pessoa que eu não quero ser tem constante preocupação com a sua imagem perante os demais, portanto ela está sempre de olho em tudo que acontece de bom e de ruim na vida do outro, atenta a todo movimento, toda palavra, para estar sempre se comparando ou pronta para se mostrar melhor.

A pessoa que eu não quero ser dorme e acorda pensando que a vida é uma competição, onde ela quer ser sempre a vencedora. E se orgulha disso! Então ela começa, a qualquer custo, a competir a atenção das pessoas, espaço, amores, amigos e, se puder, dinheiro. Se não puder, ela recua, foge. Afinal não tem coragem de se mostrar, nem o que é, nem o que tem. No fundo, isso a envergonha, portanto, melhor manter a aparência.

A pessoa que não quero ser é um verdadeiro anjo, aquelas pessoas “boazinhas”, prontas para tudo e para todos, não importando o meu eu, afinal, o que importa é somente a imagem que o outro tem de mim, mesmo que seja uma clara mentira. E, nesse papel, é bem mais fácil se achegar, conquistar e seduzir, até a hora certa do bote.

A pessoa que eu não quero ser é invejosa, observando o tempo todo a vida alheia e até fazendo parte dela, como o urubu que procura a carniça para satisfazer sua fome, a fome da vida do outro. Ela se infiltra, sem o menor escrúpulo ou um mínimo de respeito, na casa do outro, na família do outro, no grupo de amigos do outro, no trabalho do outro, na vida dele.

A pessoa que eu não quero ser só usa a língua para falar mal dos outros, faz questão de ressaltar em alto e bom tom os pequenos defeitos de outrem, transformando um pequeno ato em um desastre de proporções astronômicas. Se tiver platéia então, tanto melhor, só para que o feio fique bem aparente e, quem sabe, diminuindo um, pode-se parecer maior, afinal, tudo depende de um referencial.

A pessoa que eu não quero ser parece só faz o bem, não porque isso lhe causa prazer, mas porque é bonito, aparente, dá um status bem mais interessante. Então ela se mostra a mais altruísta de todas, até que se dê conta que não tem mais ninguém olhando.

A pessoa que eu não quero ser é fogo de palha, tem começo, mas dificilmente terá meio e certamente não terá o fim. Termina tudo na mesma intensidade que começa. Assim, como ama, odeia. Traça um projeto (seja ele em que área da vida for) com total entusiasmo e descarta, sem dó nem piedade. Triste é quando faz com pessoas, com sentimentos. Não sabe preservar.

A pessoa que eu não quero ser é egoísta. A única coisa que importa é a própria vida, os próprios problemas, seu próprio mundo. Os outros são os outros e só. São verdadeiros restos. 

A pessoa que não quero ser não conhece respeito e não entende que essa é a base de tudo. Não sabe nem respeitar a si mesma, pois passa por cima de si o tempo todo, de seus valores, de seus ideais e se anula completamente.

A pessoa que eu não quero ser é desleal e leviana, não sabe guardar segredos e os usa pra difamar pessoas que a consideram, por isso confidenciaram algo.

A pessoa que não quero ser não reconhece o valor das pessoas à sua volta. Está sempre ressaltando o que o outro tem de pior. E também não os respeita, portanto. Porque o outro é qualquer um e só ela importa. Ela é a atriz principal!

A pessoa que eu não quero ser é chata, não conhece seus próprios limites, suga a energia das pessoas e ainda acha isso muito bacana. Ela não se percebe “demais” e se mantém ali, junto, sem considerar ou analisar a postura do outro diante dela.

A pessoa que eu não quero ser é fraca, não tem garra, não luta pelo que quer, não traça objetivos, quer ser imune às conseqüências de seus atos e fica sempre em posição cômoda e confortável.

A pessoa que eu não quero ser conquista as outras pelo sentimento de pena, pois esse é o papel que ela melhor desempenha: o de vítima das situações.

A pessoa que eu não quero ser não tem caráter. E caráter, como li uma vez e achei muito apropriado, é aquilo que você faz quando ninguém está olhando.

A pessoa que eu não quero ser fala o tempo todo como é e o que faz (só as coisas boas, claro), tentando convencer o outro daquilo que nem mesmo ela acredita. Por isso fala tanto, para que ela mesmo escute e, quem sabe um dia, possa acreditar e se tornar aquilo que tanto fala, mas não é.

A pessoa que eu não quero ser é agressiva, fazendo impor sempre a lei do mais forte.

A pessoa que eu não quero ser é efusiva, com o intuito de ser o centro das atenções onde quer que esteja.

A pessoa que eu não quero ser sabe tudo. Pelo menos, aparenta que sabe. Mas, como não sabe, inventa. Lógico, usando nome de terceiros, porque ali impera a covardia de se mostrar quem é de fato. Pode conversar sobre todo e qualquer assunto, ela sempre tem a verdade ou a solução. Ela não é nem um pouquinho humilde pra dizer: “eu não sei”.

A pessoa que eu não quero ser “mente que a vergonha não sente”. Ela está tão acostumada a faltar com a verdade nas mínimas coisas, que mente o pequeno e o grande, com a maior serenidade e cara limpa. E mantém a mentira até a morte, porque ela acredita na fantasia que ela mesmo criou.

A pessoa que eu não quero ser é uma cópia, muitas vezes autenticada, já que não sabe inovar, se criar, se reinventar, ser ela mesma. Vive copiando o que os outros fazem ou falam. Tem sempre uma frase de efeito pronta, na ponta da língua, mas que não é dela.

A pessoa que eu não quero ser, não percebe que as máscaras caem e que ela não tem o controle das coisas, das pessoas e das situações. Ela nem se percebe quando nada restou, que ela está sozinha, que não tem mais crédito com ninguém. E ela permanece ali, como ameba, talvez ainda tentando sugar uma algo mais de alguém. Ela não vê que no circo da vida, ela não é mais o malabarista, e sim o palhaço, e esse nem sequer conssegue sair do chão.

A pessoa que eu não quero ser é um tanto disso tudo. E eu espero reconhecer-me em cada lapso desse que comigo acontecer. Espero poder me admitir sendo essa pessoa imunda, mesmo que por ímpeto num momento de fúria. Porque tudo que eu realmente quero é passar pela vida (seja a minha ou a dos outros), em constante evolução e crescimento, sem prejudicar ninguém e preocupando-me apenas em somar, preservando o que eu aprendi de melhor: o amor.

3 comentários:

  1. Tanto na sua vida como nas nossas vc jamais chegou perto de tudo isso!!!!!E q Deus me ajude a tbm não ser... Vc é especial bjss eu te amo

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  2. Taíza, pode ter certeza que você tem conseguido não ser "isso" , aliás você não é e faz tudo para que os que estão á sua volta não sejam também porque você é uma pessoa de coração bom, iluminada, de bem com a vida, tem uma família linda e amigos que te amam....Fui lendo isso e ficando arrepiada... Meu Deus uma pessoa assim consegue ser gente? Se for humana é uma doente,uma verdadeira psicopata e precisa de tratamento...QUE NÓS POSSAMOS TER DISCERNIMENTO DURANTE NOSSAS VIDAS PARA SERMOS UMA PESSOA QUE CONSIGA FAZER E IRRADIAR O BEM A PAZ E A HARMONIA...QUE DEUS NOS DÊ SABEDORIA PRA ISSO... BEIJOS!!!

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  3. E você tem somado sempre na vida de todos nós que temos o prazer de estar ao seu lado.
    Um beijo.
    Aline Fischer

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Status: Psicólogo

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