sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Uma análise sobre a vida


Nós bebemos demais, gastamos sem critérios. Dirigimos rápido demais, ficamos acordados até muito mais tarde, ordamos muito cansados, lemos muito pouco, assistimos TV demais e raramente estamos com Deus.

Multiplicamos nossos bens, mas reduzimos nossos valores.

Nós falamos demais, amamos raramente, odiamos freqüentemente.

Aprendemos a sobreviver, mas não a viver; adicionamos anos à nossa vida e não vida aos nossos anos.

Fomos e voltamos à Lua, mas temos dificuldade em cruzar a rua e encontrar um novo vizinho. Conquistamos o espaço, mas não o nosso próprio.

Fizemos muitas coisas maiores, mas pouquíssimas melhores.

Limpamos o ar, mas poluímos a alma; dominamos o átomo, mas não nosso preconceito; escrevemos mais, mas aprendemos menos; planejamos mais, mas realizamos menos.

Aprendemos a nos apressar e não, a esperar.

Construímos mais computadores para armazenar mais informação, produzir mais cópias do que nunca, mas nos comunicamos cada vez menos.

Estamos na era do 'fast-food' e da digestão lenta; do homem grande, de caráter pequeno; lucros acentuados e relações vazias.

Essa é a era de dois empregos, vários divórcios, casas chiques e lares despedaçados.

Essa é a era das viagens rápidas, fraldas e moral descartáveis, das rapidinhas, dos cérebros ocos e das pílulas 'mágicas'.

Um momento de muita coisa na vitrine e muito pouco na dispensa.

Uma era que leva essa carta a você, e uma era que te permite dividir essa reflexão ou simplesmente clicar 'delete'.

Lembre-se de passar tempo com as pessoas que ama, pois elas não estarão aqui para sempre.

Lembre-se dar um abraço carinhoso em seus pais, num amigo, pois não lhe custa um centavo sequer.

Lembre-se de dizer 'eu te amo' à sua companheira(o) e às pessoas que ama, mas, em primeiro lugar, se ame... se ame muito..

Um beijo e um abraço curam a dor, quando vêm de lá de dentro.

Por isso, valorize as pessoas que estão ao seu lado, sempre.

(Texto de George Carlin)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Exigência da vida moderna


Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro.
E uma banana pelo potássio.
E também uma laranja pela vitamina C.
Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir o diabetes.
Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água.
E uriná-los, o que consome o dobro do tempo.
Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém sabe bem o que é, mas que aos bilhões, ajudam a digestão).
Cada dia uma Aspirina, previne infarto.
Uma taça de vinho tinto também.
Uma de vinho branco estabiliza o sistema nervoso.
Um copo de cerveja, para... não lembro bem para o que, mas faz bem.
O benefício adicional é que, se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber.
Todos os dias deve-se comer fibra.
Muita, muitíssima fibra.
Fibra suficiente para fazer um pulôver.
Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente.
E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada.
Só para comer, serão cerca de cinco horas do dia.
E não esqueça de escovar os dentes depois de comer.
Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e, enquanto tiver dentes, passar fio dental, massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax.
Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um equipamento de som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia.
Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e uma.
Sobram três, desde que você não pegue trânsito.
As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia.
Menos você, porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora (por experiência própria, após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira uma).
E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar delas quando eu estiver viajando.
Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar as informações.
Ah! E o sexo.
Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina. Há que ser criativo, inovador para renovar a sedução. Isso leva tempo e nem estou falando de sexo tântrico.
Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e espero que você não tenha um bichinho de estimação.
Na minha conta, são 29 horas por dia.
A única solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo !!!
Tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes.
Chame os amigos e seus pais.
Beba o vinho, coma a maçã e dê a banana na boca da sua mulher.
Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e, se sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésio.
Agora tenho que ir.
É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir ao banheiro.
E já que vou, levo um jornal.
Tchau...
Se sobrar um tempinho, me manda um e-mail.

(Texto de Luiz Fernando Veríssimo)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Felicidade


Quando o indivíduo tem compromisso com sua essência, a vida não se torna um fardo pesado de carregar.
Não tenha medo de ser você.
Felicidade é como dieta, todo mundo sabe o que tem de fazer para conseguir seu objetivo, mas a maioria não põe em prática esse conhecimento.
A primeira transformação necessária para que ocorra a felicidade é passar a acreditar na possibilidade de um mundo onde todos possam se realizar.
Lealdade aos meus funcionários também é lucro.
É importante perceber que o despertar depende de você.
Nossas riquezas ultrapassam o lado material.
É preciso saber lutar como um leão, mas lutar por sonhos que valham a pena.
Liberte seu coração e deixe que ele construa seu futuro.
A luta é indispensável para realizar as metas da alma, ou seja, lutar é saudável quando se constrói a felicidade.
O mais importante de tudo é poder ter a sensação de que viver vale a pena.
Ser amigo de si próprio é compreender seus erros e ser seu cúmplice para enfrentar os desafios.
Com minha felicidade contribuí com mais luta para o planeta.
Não desfrute somente o sol, aprecie também a lua.
A felicidade é uma experiência ligada à sabedoria.
Sua vida muda quando você muda.
O primeiro passo para promover uma mudança é libertar-se da imagem que você transmite aos outros.
Negar as próprias aspirações é um desperdício de energia que faz falta para suas realizações.
A sociedade exige que sejamos bonzinhos, mas quem é bonzinho o tempo todo acaba enlouquecendo de verdade.
A pior maneira de não chegar a determinado lugar é pensar que já se está lá.
Quando alguém se dedica a alimentar ilusões, perde oportunidades.
Você tem mais valor do que qualquer cargo.
A melhor cura do baixo-astral é abrir os olhos para o mundo.
A felicidade é feita de pequenas pérolas que você cultiva a cada dia, a cada hora.
Enquanto você acreditar, o medo não vai se instalar.
Para viver intensamente é necessário conviver com os riscos.
O medo reside no sofrimento do passado e cria a dor do futuro.
Nosso maior adversário está dentro de nós.
Uma das armadilhas mais comuns da infelicidade é o adiantamento.
Antes de reagir, observe.
As pessoas costumam sofrer mais do que a situação exige.
O amor é um aprendizado. Como diz o poeta, amar se aprende amando.
Nunca desista de um amor simplesmente por causa dos obstáculos.
Poder é ser dono de sua atenção.
Quando o amor é artificial, o dinheiro tornar-se fundamental.
Nós é que transformamos a semente em árvore para poder colher os frutos.
É importante entender que o sofrimento quase sempre é uma opção individual.
Sofrer ou não é uma decisão de cada pessoas e de mais ninguém.
O problema é que destruir o passado é o mesmo que abandonar uma parte de si próprio.
As pessoas estão se esquecendo do quanto é gostoso sair só para se divertir, conhecer gente, trocar afetos e fazer amizades.
As feridas da alma são curadas com carinho, atenção e paz.
Você é a pessoa que escolhe ser.
O ser humano saudável é infinitamente criativo, mas quando fica neurótico torna-se excessivamente rígido.
As pessoas criam mitos para depois se decepcionar com eles.
As pessoas acreditam e vivem baseadas em suas verdades.
Sua vida é conseqüência do que você é.
Quando se tem sonho grande, a vida se expande. Sonhos grandes impulsionam, motivam, dão energia.
Sonhar é de graça, mas realizá-lo custa muito.
Problemas não impedem ninguém de ser feliz.
A felicidade é a oportunidade que você cria para ser o artista de sua autocriação.
Felicidade é algo que vive dentro de você, de seu coração.
Busque agir para o bem, enquanto você dispõe de tempo. É perigoso guardar uma cabeça cheia de sonhos, com as mãos e o coração desocupados.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Elegância - Martha Medeiros


Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a elegância do comportamento.
É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado.
É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto.
É uma elegância desobrigada.
É possível detecta-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam, nas que escutam mais do que falam. E quando falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca.
É possível detecta-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas, nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros.
É possível detecta-la em pessoas pontuais.
Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está.
Oferecer flores é sempre elegante.
É elegante você fazer algo por alguém e este alguém jamais saber disso...
É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro.
É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais.
É elegante o silêncio, diante de uma rejeição.
Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto.
Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo.
É elegante a gentileza...
Atitudes gentis, falam mais que mil imagens.
Abrir a porta para alguém... é muito elegante.
Dar o lugar para alguém sentar... é muito elegante.
Sorrir sempre é muito elegante e faz um bem danado para a alma...
Olhar nos olhos ao conversar é essencialmente elegante.
Pode-se tentar capturar esta delicadeza pela observação, mas tentar imita-la é improdutiva.
A saída é desenvolver a arte de conviver, que independe de status social: é só pedir licencinha para o nosso lado brucutu, que acha que “com amigo não tem que ter estas frescuras”.
Educação enferruja por falta de uso.
E, detalhe: não é frescura.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Uma homenagem a Arnoud Rodrigues


“Existimos, a que será que se destina?”...

Assim fala Caetano e me espelho nessa “dúvida” para tentar entender tal destino e escrever expressando alguma coisa que aprendi com meu amigo que se foi. Não escrevo de forma profissional, pois nem amador eu sou nessa arte, mas escrevo com saudade e na tentativa de entender o “destino da vida”, essa matéria fina, frágil, invisível aos olhos e que conduz almas, sentimentos e emoções a um corpo físico, mas também frágil, tão frágil quanto a chama de uma vela acesa que ao menor sopro de um “Vento Destino”, se apaga...

Nesse dia acordei me preparando pra despedir da matéria, pois nem isso a vida nos permite, ela se vai em silêncio e na solidão que lhe cabe e que lhe é permitida... Iria me despedir da amizade e do talento, principalmente do talento...

As notícias do meu País falavam de um carnaval por todos os cantos e no meio da folia ouvia-se baixinho a notícia também, das cinzas de uma quarta-feira triste e sem mais um canto, sem mais um talento, sem o riso, sem alegria e sem Arnaud Rodrigues...

Arnaud partia, a folia insistia... Morre o talento e sobrevive a mediocridade que insiste em se chamar arte. Partia parte da arte e ficava toda uma hipocrisia alienadora e vulgar...

O menino da terra de Virgulino Ferreira, guerreiro dos sertões nordestinos, que “Talhava Serras”, Robin Hood da caatinga que não com arcos e flechas, mas cordas e poemas usava a indiferença e crueldade dos ricos e as transformava em esperança, sorriso e lenitivo aos pobres...

De repente, esse nosso herói do coração e do amor virava só lembrança e saudade...

Acolhido e adormecido pelas águas que o encantaram, uma perigosa Iara sedutora, essa sereia cabocla do cerrado, o mesmo canto das águas que havia fascinado seu coração e que um dia o trouxera para uma terra distante da sua, mas que ele aprenderia a amar numa espécie de adoção inversa... Arnaud adotava uma nova terra como sua mãe, não imposta por tal destino, mas escolhida por seu coração...

Mas essa mesma água fora escolhida por tal destino para lhe servir de último leito, último abrigo, desatando os laços da matéria e soltando a vida ao vento que de frágil se apagava, que por ser de terra lhe sufocava...

Pra onde vai tanto talento?

Que fim tem essa vida criativa, perspicaz, rebelde e divertida?

Que acontece com tanta experiência de vida, tanto amor semeado, tanta luta e tanta Arte latente?

Será “vontade de Deus?”...

Alguém me disse que “Deus queria a alegria dele”...

Não creio!...

Meu Deus não se portaria assim de forma egoísta e de natureza tão imperfeita e desumana nos permitindo receber e amar alguém e depois, como um grande sádico numa brincadeira de mau gosto, o levasse para seu deleite pessoal não se importando com mais nada nem ninguém...

Pra não morrer também de desencanto ou para me livrar das tristes amarras da loucura, prefiro acreditar na vida enquanto ela “é vida” e não quando vira “outra coisa qualquer”. Não quero viver esperando a morte ou o que vem depois e não mais pensar ou esperar que a vida vire saudade ou uma eternidade duvidosa e improvável...

Depois de tantos Arnauds, Gonzaguinhas, Vinícius, Josés Americos e Gomes, quero acreditar no momento que vivemos como o último e na energia e no amor que semeamos como inspiração e qualidade para essa vida...e a falta dessa semeadura nas tristezas adquiridas. Quero abraçar mais os Arnauds antes que eles partam não sei pra onde, quero brincar mais com as crianças, cuidar mais de animais e plantas, me doar inteiro a todas as paixões e cantar, sorrir, abraçar, beijar e, principalmente, amar mais e mais e tudo e a todos sem distinção, bastando ter “vida” como única e exclusiva condição para eu poder amar. Depois de Arnaud, quero amar mais a vida e tudo que ela representa...

Arnaud fica na saudade da alegria de seu canto, de seu riso de seus poemas, na “fome do urubu”, no “piar do cavaquinho e da flautinha”, na vingança do menino da porteira, nas canções de amor a Palmas e ao Tocantins e nas amizades sinceras espalhadas por aqui...

Ele não vai triste nem sozinho, vai cheio de “Folias de Reis e de Rainhas, em nome das estrelas e mar marejando”, aprendendo e ensinando a lição de que “o mar bravo só respeita rei”...

E partindo, partindo, mas voltando nesses versos para confirmar tal lei, a lei da alegria e do amor, mas “Alegria em nome de Cristo, porque Cristo foi o Rei dos Reis”...

Amigo Arnaud, não sei pra onde você vai, mas seja lá onde for, sua arte irá na frente lhe abrindo portas...

(Texto de Diomar Naves - arquiteto, apresentador de televisão, produtor, cantor e compositor)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Recadinho da blogueira


Queridos amigos leitores,


Nos últimos dias tenho estado um tanto distante de todos, mas é porque tenho me dedicado a um dos meus projetos para 2010 que é escrever um livro. Acredito que este vai ficar bem interessante, pois é algo que caiu na minha mão, como um passarinho que tanto voou até encontrar o seu porto seguro, seu lugar de pouso.

Estou fazendo com muito carinho, pois este é um projeto de um grande amigo que embarquei e estou adorando fazer. Torçam para que eu possa fazer bem feito, pois ando muito “fazedora de arte” ultimamente. Eita, coisa boa!!!! (Risos)

Mesmo com a falta de tempo para “inspirações extras”, saibam que estarei sempre blogando algo novo, textos que gosto de escritores renomados para que vocês tenham sempre algo novo pra ler, alguma coisa que possa acrescentar algo na vida de vocês, mesmo que seja um simples suspiro ou uma doce saudade.

E, vez ou outra, algo meu vai aparecer por aqui, afinal, eu preciso expor o que sinto, o que penso, o que me acontece e saber que tem alguém, em algum lugar que me segue, me olha, me avalia... hummm... isso me dá até a sensação de borboletas no estômago, afinal, continuo um ser apaixonado, por tudo e todos, sempre.

Falando em paixão, hoje vou deixar um texto do Artur da Távola que sou eu, a própria mulher apaixonada, que só se move com amor e por amor.

Beijos... beijos e mais beijos...

A mulher apaixonada


É um ser em estado de torcida do Flamengo.
Torce mais por ele (o amado) que pela Seleção.
Entra no campo, agride o juiz, salta o alambrado,
topa qualquer desafio. Só vê a vitória.
Vai pro exílio, larga carreira,
profissão, conveniência, partido político.
Só tem um caminho e uma verdade: o amor.
O resto virá depois. Sem ele, o tudo é nada.

É o mais paciente dos seres impacientes.
Sempre em estado de "estou pronta" leva anos
esperando com uma insuportável
e maravilhosa impaciência, exigência,
dedicação, entrega, cegueira,
vontade de quintais, praias e amarrações
que supõe perfeitas e definitivas.
Ninguém vive a provisoriedade
com tanto sentido de permanência.
Ninguém assina em branco
e antecipa tantos avais de afeto.
Ninguém erra com tanta convicção e decência.

É fera e santa, guerreira e gato,
desastrada e genial,
capaz de usar fitas; meias coloridas;
de enfrentar solidões, distâncias,
presenças e furacões pelo ser amado.
É o mais regular dos seres irregulares, porque
não julga, não pensa, não avalia: sente.
E que se danem o mundo, as regras,
as regulações, disposições, legislações
e tudo aquilo que a mãe ensinou!
Que o mundo exploda em flores!
Ser de grandezas só vive de migalhas.

Entende de lençóis iluminados
pela luz do corredor nas noites sem sono,
conhece ruídos diferentes de tique-taques
e entende de cantores e poetas
(escolhidos secretamente).
Interpreta as mensagens mais sutis do amado:
tom de voz, espaço entre uma e outra frase,
fomes dominicais, impressões vagas de cansaço,
tédio, alegria ou saudade expressas por fungados,
suspiros, desabafos, interjeições,
gestos, sons, olhares.

Mistura disposição com vontade.
Possibilidade com ânsia.
Dificuldade com não querer.
Em suma: é o mais incapaz dos capazes
do que há de melhor,
mais lindo, legítimo e verdadeiro.
Especialista em pretextos;
modista de oportunidades;
navegantes de esperanças;
tecelã de ternuras;
doceira de amarguras.
É furacão e chuvisco;
exaltação e placidez;
adivinhação e alienação;
sábia e patusca;
maravilha e susto;
mãe e mulher;
filha e bruxa;
santa e desastrada.

O único ser que topa qualquer parada
não é o herói,
o desesperado ou o valente:
é a MULHER APAIXONADA.

(Texto de Ártur da Távola)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O amor


O amor é uma escultura que se faz sozinha.

É uma flor inesperada sem estação do ano para surgir nem para morrer. Vai sendo esboçada assim ao léo: aqui a sobrancelha se arqueia, ali desce a curva do pescoço, a mão toca a ponta de um pé, no meio estende-se a floresta das mil seduções.

Imponderável como a obra de arte, o amor nem se define nem se enquadra: é cada vez outro, e novo, embora tão velho. Intemporal.

Planta selvagem, precisa de ar para desabrochar mas também se move nos vãos mais escuros, em ambientes sufocantes onde rebrilham os olhos malignos da traição ou da indiferença, e a culpa o pode matar.

O convívio é o exercito do amor na corda bamba. Os corpos se acomodam, as almas se espreitam, até se complementam. Mas pode-se cair no tédio – sem rede –, e bocejar olhando pela janela. Inventamos receitas para que o amor melhore, perdure, se incendeie e renove... nem murche nem morra. Nenhuma funciona: ele foge de qualquer sensatez, como o perfume das maçãs escapa num cesto de vime tampado.

Se fossemos sensatos haveríamos de procurar nem amar, amar pouco, amar menos, amar com hora marcada e limites. Mas o amor, que nunca tem juízo, nos prega peças quando e onde menos esperamos.

Nunca nos sentimos tão inteiros como nesses primeiros tempos em que estamos fragmentados: tirados de nós mesmos e esvaziados de tudo o mais, plenos só do outro em nós. Nos sentimos melhores, mais bonitos, andamos com mais elegância, amamos mais os amigos, todo mundo foi perdoados, nosso coração é um barco para o qual até naufragar seria glorioso (ah, que naufrágios...).

Mais que isso, nesse castelo – como em qualquer castelo – não pode haver dois reis. Quem então cederá seu lugar, quem será sábio, quem se fará gueixa submissa ou servo feliz, para que o outro tome o lugar e se entronize e... reine?

A palavra “liberdade” teria de ser mais presente, porém é mais convidada a discretamente afastar-se e permitir que em seu lugar assuma o comando alguma subalterna: tolerância, resignação, doação, adaptação. Rondando o fosso do castelo, a vilã de todas: a culpa. Quem deixou sobre minha mesa o bilhete dizendo “se você ama alguém, deixe-o livre” sabia das coisas, portanto sabia também o desafio que me lançava.

No mundo das palavras há tantos artifícios quantas são as nossas contradições. Por isso, conviver é tramar, trançar, largar, pegar, perder. E nunca definitivamente entender o que – se fossemos um pouco sábios – deveríamos fazer. Farsa, tragédia grega, outras soneto perfeito: o amor, com as palavras, se disfarça em doces armadilhas ou lâminas.

(Texto de Lya Luft)

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Vento - Roberto Shinyashiki


Neste momento,
penso em você e então
quisera me transformar em vento.
E se assim fosse,
chegaria agora como brisa fresca
e tocaria leve sua janela.
E se você me escuta e
me permite entrar,
em você vou me enroscar
quase sem o tocar.
Vou roçar nos seus cabelos,
soprar mansinho no ouvido,
beijar sua boca macia,
o embalar no meu carinho
Mas eu não sou vento...
Agora sou só pensamento e
estou pensando em você.
E se abrir sua janela,
eu estou chegando aí,
agora...
neste momento,
em pensamento...
no vento.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Minha orquestra


Há alguns dias estou sem escrever, pois estou numa ausência de palavras minhas, coisas que não sei transcrever aos meus fiéis leitores. Então saio navegando para não decepcioná-los, procurando a esmo textos de outros escritores que sejam parecidos com esse meu momento, um momento de pausa. Algum texto que possa traduzir um pouco do que sinto, do que penso, do que quero. Mas nem assim consigo chegar enfim à conclusão do que realmente quero.

Apesar de a pausa representar um intervalo de silêncio em uma música, em mim há uma orquestra que toca incessantemente uma sinfonia que, de tão harmônica, me causa uma enorme confusão mental. Uma orquestra regida por dois maestros que não se entendem nunca: a razão e a emoção. Ainda assim, a música erudita é perfeita, com todas as suas evoluções, dessas que faz o coração bater mais forte.

Essa pausa, a qual não sei qual será o seu tempo, muito menos qual a nota a ser tocada depois, me incomoda absurdamente, porque me foge o controle da minha própria vida. É como se alguém tivesse apagado parte da partitura que eu já li e eu mesma toquei, porém, por algum motivo, me esqueci. Essa pausa tira toda a melodia do que já vivi até aqui e é seca, forte, contundente, me transmitindo ausência de notas e sons tão necessários ao bem viver, que me dá a breve sensação de ter o seu final exatamente aqui. Um final interrompido, sem graça, sem ritmo.

Nesse devaneio musical tudo que há é ausência. Ausência das notas musicais, dos bemóis, dos sustenidos, das palavras que tanto gostaria de escrever ou dizer harmonizando essa música e formando alguma letra. Ausência de alguém pra entender, pra sentir ou compartilhar esse som, assim como uma falta de amor em minha vida, ausência de pessoas que eu possa verdadeiramente amar.

Em todos os lados ouço músicas carnavalescas, acompanhadas de multidões ensandecidas com suas roupas coloridas, rumor de tambores e instrumento de percussão... em mim, apenas pausa... sem som, muito menos tom, quem sabe branca (ou seria preta?)... sem graça e sem sentido.

De repente, cessa-se a pausa e a melodia a seguir é doce, bem elaborada. Começa com o Sol numa flauta que mais parece encantada. A evolução é tão perfeita, tão linda que parece triste e dói na alma e uma lágrima escorre em meu rosto.

Pouco a pouco, os arranjos vão ficando mais ricos, mais instrumentos compõem a melodia e o que era triste começa a ficar rico, mais completo. Os maestros começam a fazer um tipo de repentismo divertido que alegra não só a platéia como todos os componentes da orquestra. Era o ideal que todos esperavam.

Nessa sinfonia vou levando a vida, assistindo a tudo com muita calma e cuidado, sentindo cada acorde com muito sentimento, acompanhando cada nota musical, cada pausa, cada evolução, esperando o momento certo dos aplausos ecoarem fortes pelo salão, na certeza que foi um verdadeiro espetáculo.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Um atestado de miséria moral


Ainda na década de 60, Emmanuel e Francisco Cândido Xavier apresentaram o seguinte depoimento sobre o Carnaval:

"Nenhum espírito equilibrado em face de bom senso, que deve presidir a existência das criaturas, pode fazer a apologia da loucura generalizada que adormece as consciências nas festas carnavalescas.

É lamentável que, na época atual, quando os conhecimentos novos felicitam a mentalidade humana, fornecendo-lhe a chave maravilhosa dos seus elevados destinos, descerrando-lhes as belezas e os objetivos sagrados da vida, se verifiquem excessos dessa natureza entre as sociedades que se pavoneiam com os títulos de civilização.

Enquanto os trabalhos e as dores abençoadas, geralmente incompreendidos pelos homens, lhes burilam o caráter os sentimentos, prodigalizando-lhes os benefícios inapreciáveis do progresso espiritual, a lenciosidade desses dias prejudiciais opera nas almas indecisas e necessitadas de amparo moral dos outros espíritos mais esclarcidos, a revivescência de animalidade ue só os longos aprendizados fazem desaparecer.

Há nesses momentos de indisciplina sentimental o largo acesso das forças da treva nos corações e, às vezes, toda uma existência não basta para ralizar os reparos preciosos de insânia e de esquecimento do dever.

Enquanto há miseráveis que estendem as mão súplices, cheios de necessidade e de fome, sobram as fartas contribuições para que os salões se enfeitem e se intensifique o olvido de obrigações sagradas por parte de almas cuja evolução depende do cumprimento autero dos deveres sociais e divinos.

Ação altamente meritória seria de empregar todas as verbas consumidas em semelhantes festejos na assistência social aos necessitados de pão e de carinho.

Ao lado dos mascarados da pseudoalegria, passam os doentes, os leprosos, os cegos, as crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras.

Por que protelar essa ação necessária das forças conjuntas dos que se preocupam com os problemas nobres da vida, a fim de que se transforme o súperfluo na migalha abençoada de assitência material e de conforto moral que será a esperança dos que choram e sofrem?

Que os valorosos irmãos compreendam semelhantes objetivos de nossas despretenciosas opiniões, colaborando conosco, dentro de suas possibilidades, no sentido de que possamos reconstruir e edificar os costumes para o bem de todas as almas.

É incontestável que a sociedade pode, com o seu livre abítrio coletivo, exibir superfuidades e luxos nababescos, mas, enquanto houver um mendigo abandonado junto ao seu fastigio e de sua grandeza, ela só poderá fornecer com isso um eloquente atestado de sua miséria moral".

Fonte: Diário da Manhã

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Um dia por vez - 11/02/10 - Vermelho


Hoje acordei no vermelho, de corpo, alma e coração.

De corpo, porque estou no ciclo menstrual que perturba a mulher mensalmente, não só pelo incômodo que causa como também pela TPM que atordoa. Também de corpo porque hoje não conseguiria sair de casa senão tivesse vestida de vermelho: esmalte, blusa, sandália.

De alma porque sinto que essa cor me persegue, como uma aura que acompanha que resplandece o amor. Esse amor que sinto tão forte dentro de mim por tudo e por todos, o amor pelo qual eu escolhi viver, fazendo tudo com amor e por amor, tentar ser um ser que transmite esse sentimento tão sublime.

De coração porque é como diz a música da Fafá de Belém: “meu coração é vermelho... de vermelho vive o coração”. É a cor do sangue que faz o coração pulsar, que dá o tom perfeito para uma vida mais intensa, forte, em busca da tal felicidade. Talvez seja por isso que gosto tanto do vermelho.

Vermelho é a cor da paixão e do meu sentimento, pois sou uma alma que vaga apaixonada pela vida, pelas coisas que me rodeiam e até pelo desconhecido, sentindo o que há de mais belo, mais intenso e mais inspirador, fazendo o coração bater bem mais forte e muito mais verdadeiro.

Essa cor dá o tom ideal das altas emoções, da graça do sorriso, dos momentos de bobeira assumidos, da força da intensidade, da guerra que muitas vezes precisamos travar (muitas vezes conosco mesmo), do “pra sempre” (mesmo que sempre não seja todo dia, como diz Oswaldo Montenegro)... enfim, é a cor do sentido da vida.

O amor também é simbolizado pelo vermelho porque é fogo que arde sem se ver, é o poder da transformação, é a impulsividade do instinto, é a força que move o mundo. É quente, é avassalador. Acho até que a loucura também deve ser vermelha, porque amor só é amor se não houver o menor nexo.

Acho que Deus quando criou o mundo colocou todas as cores em perfeita harmonia e perfeição. Penso também que o homem, desprovido da inteligência emocional, distorceu as cores e simbolizou o Diabo com o vermelho. Porém, se Deus é Amor, Deus não tem como ser de outra cor, que não o vermelho.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A alma do outro


A alma do outro é uma floresta escura", disse o poeta Rainer Maria Rilke, meu único autor de cabeceira. A vida vai nos ensinando quanto isso é verdade.

Pais e filhos, irmãos, amigos e amantes podem conviver décadas a fio, podem ter uma relação intensa, podem se divertir juntos e sofrer juntos, ter gostos parecidos ou complementares, ser interessantes uns para os outros, superar grandes conflitos – mas persiste o lado avesso, o atrás da máscara, que nunca se expõe nem se dissipa.

Nem todos os mal-entendidos, mágoas e brigas se dão porque somos maus, mas por problemas de comunicação. Porque até a morte nos conheceremos pouco, porque não sabemos como agir. Se nem sei direito quem sou, como conhecer melhor o outro, meu pai, meu filho, meu parceiro, meu amigo – e como agir direito?

Neste momento escrevo, como já disse, um livro sobre o silêncio. Começou como um ensaio na linha de O Rio do Meio e Perdas & Ganhos, mas acabou se tornando um romance, em pleno processo de elaboração. Isso me faz refletir mais agudamente sobre a questão da comunicação e sua por vezes dramática dificuldade, pois nos mal-entendidos reside muito sofrimento desnecessário.

Amor e amizade transitam entre esses dois "eus" que se relacionam em harmonia e conflito: afeto, generosidade, atenção, cuidados, desejo de partilhamento ou de vida em comum, vontade de fazer e ser um bem, e de obter do outro o que para a gente é um bem, o complicado respeito ao espaço do outro, formam um campo de batalha e uma ponte. Pontes podem ser precárias, estradas têm buracos, caminhos escondem armadilhas inconscientes que preparamos para nossos próprios passos em direção do outro.

O que está mergulhado no inconsciente é nosso maior tesouro e o mais insidioso perigo. Pensar sobre a incomunicabilidade ou esse espaço dela em todos os relacionamentos significa pensar no silêncio: a palavra que devia ter sido pronunciada, mas ficou fechada na garganta e era hora de falar; o silêncio que não foi erguido no momento exato – e era o momento de calar.

Mas, como escrevi várias vezes, a gente não sabia. É a incomunicabilidade, não por maldade ou jogo de poder, mas por alienação ou simples impossibilidade. Anos depois poderá vir a cobrança: por que naquela hora você não disse isso? Ou: por que naquele momento você disse aquilo? Relacionar-se é uma aventura, fonte de alegria e risco de desgosto.

Na relação defrontam-se personalidades, dialogam neuroses, esgrimem sonhos e reina o desejo de manipular disfarçado de delicadeza, necessidade ou até carinho. Difícil? Difícil sem dúvida, mas sem essa viagem emocional a existência é um deserto sem miragens. No relacionamento amoroso, familiar ou amigo acredito que partilhar a vida com alguém que valha a pena é enriquecê-la; permanecer numa relação desgastada é suicídio emocional, é desperdício de vida. Entre fixar e romper, o conflito e o medo do erro.

Somos todos pobres humanos, somos todos frágeis e aflitos, todos precisamos amar e ser amados, mas às vezes laços inconscientes enredam nossos passos e fecham nosso coração. A balança tem de ser acionada: prevalecem conflitos ásperos e a hostilidade, ou a ternura e aqueles conflitos que ajudam a crescer e amar melhor, a se conhecer melhor e melhor enxergar o outro? O olhar precisa ser atento: mais coisas negativas ou mais gestos positivos? Mais alegria ou mais sofrimento? Mais esperança ou mais resignação? Cabe a cada um de nós decidir, e isso exige auto-exame, avaliação.

Posso dizer que sempre vale a pena, sobretudo vale a pena apostar quando ainda existe afeto e interesse, quando o outro continua sendo um desafio em lugar de um tédio, e quando, entre pais e filhos, irmãos, amigos ou amantes, continua a disposição de descobrir mais e melhor quem é esse outro, o que deseja, de que precisa, o que pode – o que lhe é possível fazer.

Em certas fases, é preciso matar a cada dia um leão; em outras, estamos num oásis. Não há receitas a não ser abertura, sinceridade, humildade que não é rebaixamento. Além do amor, naturalmente, mas esse às vezes é um luxo, como a alegria, que poucos se permitem. Seja como for, com alguma sorte e boa vontade a alma do outro pode também ser a doce fonte da vida.

(Texto de Lya Luft)

Status: Psicólogo

Ao psicólogo não é dado o martelo dos juízes, as prerrogativas dos promotores, nem o bisturi dos cirurgiões, somos pequenos clínicos ...