terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Sobre ser mãe...



Filho não vem com Manual de Instrução. 
Ser mãe ultrapassa qualquer discurso, por isso pensei muito antes de escrever este texto.
A gente começa a sentir os efeitos emocionais da maternidade no momento em que descobrimos que há uma nova vida em nosso ventre. 
Desconheço palavras que possam traduzir todo o sentimento que brota no peito a partir desta descoberta. 
Ao longo dos meses, vamos vivendo a delícia e o pavor que, acreditem, crescem lado a lado como se unidos fossem por um fio tênue, igual ao que nos une a nossa cria ainda ali, segura dentro de nós. 
Dos enjôos, das viradas do feto no útero, dos desejos, das noites mal dormidas não guardamos lembranças. Em nossa memória, apenas a sensação fantástica de dar a luz, de olhar pela primeira vez para aquele rosto que acaba se tornando a razão de nosso viver.
Manuais existem aos montes... livros de especialistas, de nobres doutores, mas parem! Jamais um ser vivente conseguiu traduzir toda a beleza da maternidade. Só sabe quem vive. 
Quantas vezes não abrimos mão de nossos próprios sonhos para realizar o de um filho?
Quantas noites em claro passamos por causa de uma febre que insiste em o fazer sofrer?
Quantas vezes não rogamos a Deus que tire de nosso filho o sofrimento e passe para nós, mesmo sabendo que isso é impossível? 
Ao longo do caminho, é claro que vão acontecer atropelos e, aos olhos dos outros, talvez ajamos errado aqui e ali. Mas só nós – e somente nós que somos mães – sabemos que nosso fazer foi com a melhor das intenções. 
Continuando o caminhar, o vemos crescer e começar a colecionar suas próprias dores, que acabam também por nos machucar – e muito! 
Observamos suas escolhas, interferimos e atropelamos sem lembrar que cada um que chega neste mundo traz uma missão e precisa do aprendizado pessoal e intransferível. 
A dor do filho bate fundo na mãe, mas ao mesmo tempo ela precisa continuar viva, inteira, firme e seguindo para poder ajudar quando for possível, mas sem interferir na história que ele mesmo precisa escrever. 
Sou péssima nesta parte, confesso, e não raro atropelei, tomei para mim questões e problemas que não me diziam respeito e, assim, não ajudei. Ao contrário, atrapalhei. 
Com outras pessoas deve ter sido igual, e não é fácil admitir que somos capazes – mesmo por amor – de atrapalhar a vida de nossos filhos. 
O que conta, que ainda me consola, é saber que todos nós somos filhos de um mesmo Pai, que olha por cada um de seus filhos, que deles cuida na medida de sua necessidade e de seu merecimento. 
Filho não tem idade, não tem gênero. 
Filho é parte de nós, carrega em si nosso DNA e, com isso, ajuda a nos tornarmos eternos.
Filho é complicado, mas sem eles a vida perderia boa parte de sua graça. 
Filho não vem com manual de instrução e deve ser por isso que a gente pisa tanto na bola querendo acertar. 
Mas, apesar de..., sinto no meu íntimo que sou a melhor mãe do mundo! 
Eu sou, com todas as minhas limitações, meus erros e acertos. 
Você também é, acredite.


Desconheço a autoria.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Reencontrar amigos...


Reencontrar amigos significa localizar a nós mesmos.
É estar alinhado com uma porção de nós que existiu e se diluiu, mas necessita ser ativada de tempos em tempos. 
É reencontrar nosso referencial, o pedaço de nossa história a partir do qual tudo o mais virou mera comparação e entender que, se algum dia fomos tocados, essa relíquia permanece conosco. 
Requer coragem, pois implica deixar o instinto de autopreservação em casa e se arriscar.
A gente se reabastece. 
A sensação é mais ou menos como voltar à terra natal, rever a casa que morou na infância, esbarrar num grande amor ou provar uma receita de família.
Existe poesia no reencontro… 
Um encantamento sentido por aqueles que se deixaram cativar. 
Como um amigo querido que viajou 1600 km só para passar algumas horas conosco. Acredito que apesar do cansaço, voltou leve e certamente pôde agregar partes de si mesmo, sob o olhar generoso e cúmplice de cada um dos presentes.
Pois como dizia o poeta: “As coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão…



terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Ah... como gosto...



Gosto de gente com a cabeça no lugar, de conteúdo interno, idealismo nos olhos e dois pés no chão da realidade.
Gosto de gente que ri, chora, se emociona com um simples e-mail, um telefonema, uma canção suave, um bom filme, um bom livro, um gesto de carinho, um abraço, um afago.
Gente que ama e curte saudade, gosta de amigos, cultiva flores, ama os animais.
Admira paisagens, poeira e chuva.
Gente que tem tempo para sorrir bondade, semear perdão, repartir ternuras, compartilhar vivências e dar espaço para as emoções dentro de si, emoções que fluem naturalmente de dentro de seu ser!
Gente que gosta de fazer as coisas que gosta, sem fugir de compromissos difíceis e inadiáveis, por mais desgastantes que sejam.
Gente que colhe, orienta, se entende, aconselha, busca a verdade e quer sempre aprender, mesmo que seja de uma criança, de um pobre, de um analfabeto.
Gente de coração desarmado, em ódio e preconceitos baratos.
Com muito AMOR dentro de si.
Gente que erra e reconhece, cai e se levanta, apanha e assimila os golpes, tirando lições dos erros e fazendo redentoras suas lágrimas e sofrimentos.
Gosto muito de gente assim como VOCÊ...
e desconfio que é deste tipo de gente que DEUS também gosta!

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Felicidade é a soma de pequenas felicidades


FELICIDADE É A SOMA DE PEQUENAS FELICIDADES

Li essa frase num outdoor em Paris e soube, naquele momento, que meu conceito de felicidade tinha acabado de mudar. Eu já suspeitava que a felicidade com letras maiúsculas não existia, mas dava a ela o benefício da dúvida.

Afinal, desde que nos entendemos por gente aprendemos a sonhar com essa felicidade no superlativo. Mas ali, vendo aquele outdoor estrategicamente colocado no meio do meu caminho (que de certa forma coincidia com o meio da minha trajetória de vida), tive certeza de que a felicidade, ao contrário do que nos ensinaram os contos de fadas e os filmes de Hollywood, não é um estado mágico e duradouro.

Na vida real, o que existe é uma felicidade homeopática, distribuída em conta-gotas. Um pôr-de-sol aqui, um beijo ali, uma xícara de café recém-coado, um livro que a gente não consegue fechar, um homem que nos faz sonhar, uma amiga que nos faz rir... São situações e momentos que vamos empilhando com o cuidado e a delicadeza que merecem alegrias de pequeno e médio porte e até grandes (ainda que fugazes) alegrias.

Eu contabilizo tudo de bom que me aparece! Sou adepta da felicidade homeopática. Se o zíper daquele vestido que eu adoro volta a fechar (ufa!) ou se pego um congestionamento muito menor do que eu esperava, tenho consciência de que são momentos de felicidade e vivo cada segundo.

Alguns crescem esperando a felicidade com letras maiúsculas e na primeira pessoa do plural. Eu me imaginava sempre com um homem lindo do lado, dizendo que me amava e me levando pra lugares mágicos. Agora, se descobre que dá pra ser feliz no singular. Quando estou na estrada dirigindo e ouvindo as músicas que eu amo, é um momento de pura felicidade. Olho a paisagem, canto, sinto um bem-estar indescritível. 

Uma empresária que conheci recentemente me contou que estava falando e rindo sozinha quando o marido chegou em casa. Assustado, ele perguntou com quem ela estava conversando: 'Comigo mesma', respondeu. 'Adoro conversar com pessoas inteligentes'.
Criada para viver grandes momentos, grandes amores e aquela felicidade dos filmes, a empresária trocou os roteiros fantasiosos por prazeres mais simples e aprendeu duas lições básicas: que podemos viver momentos ótimos mesmo não estando acompanhadas e que não tem sentido esperar até que um fato mágico nos faça felizes.

Esperar para ser feliz, aliás, é um esporte que abandonei há tempos. E faz parte da minha 'dieta de felicidade' o uso moderadíssimo da palavra 'quando'. Aquela história de 'quando eu ganhar na Mega Sena', 'quando eu me casar', 'quando tiver filhos', 'quando meus filhos crescerem', 'quando eu tiver um emprego fabuloso' ou 'quando encontrar um homem que me mereça', tudo isso serve apenas para nos distrair e nos fazer esquecer da felicidade de hoje. 

Esperar o príncipe encantado, por exemplo, tem coisa mais sem sentido? Mesmo porque quase sempre os súditos são mais interessantes do que os príncipes. Ou você acha que a Camilla Parker-Bowles está mais bem servida do que a Victoria Beckham?

Como tantos já disseram tantas vezes, 'aproveitem o momento, amigos'. E quem for ruim de contas recorra à calculadora para ir somando as pequenas felicidades.

Podem até dizer que nos falta ambição, que essa soma de pequenas alegrias é uma operação matemática muito modesta para os nossos tempos. Que digam! Melhor ser minimamente feliz várias vezes por dia do que viver eternamente em compasso de espera.


Leila Ferreira, jornalista

Status: Psicólogo

Ao psicólogo não é dado o martelo dos juízes, as prerrogativas dos promotores, nem o bisturi dos cirurgiões, somos pequenos clínicos ...