O amor

Dizem que só evoluímos pelo amor ou pela dor. Dizem ainda que pela dor até se evolui mais, devido ao sofrimento que lhe é atribuído.

Amor é fogo que arde sem se ver,

é ferida que dói, e não se sente;

é um contentamento descontente,

é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;

é um andar solitário entre a gente;

é nunca contentar-se de contente;

é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;

é servir a quem vence, o vencedor;

é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor

nos corações humanos amizade,

se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Desta poesia de Camões surge a reflexão: e o amor não seria a própria dor? A minha resposta, sem a menor sombra de dúvidas, seria “sim”. Quando a gente ama, sofremos por qualquer coisa, porém esse sofrimento tem contido um prazer inexplicável, um gozo de vida.

Amor é mais do que um sentimento. Amor é vício, porque quanto mais amamos, mais queremos amar. Quando mais seu coração dói por amor, uma dor física mesmo, mais queremos amar e descobrimos nosso lado masoquista, porque esse desconforto nos causa um imenso prazer, o prazer de reconhecer em nós o amor.

O amor é calmo, é desapego, é abrir mão de si mesmo, é uma alegria que a gente não entende de onde vem, é servir, é estado de êxtase... e se transforma num vício, a partir do momento que você o experimenta de verdade, em sua essência.

Quando ele chega, faz bagunça, muitas vezes se confunde com paixão, mas a paixão é egoísta e acaba. O amor não! Ele se consolida através dos tempos e se fortalece cada vez mais, fica sólido, inquebrável. Não podemos negar que com sua presença em nossa vida, sentimos uma enorme insegurança dentro de nós, porque não temos controle sobre ele. Ele inunda tudo, entra sem pedir licença e faz o que tem que fazer com competência. E nós nos perdemos porque é algo tão grande que nem sabemos lidar com tudo isso.

Mas nos contentamos em simplesmente amar. Mesmo sabendo que ele é solitário porque ele se basta; que é surpreendente, porque está sempre nos fazendo fazer coisas que, pela razão, não faríamos; que é traidor, pois por mais que tenhamos mil motivos para não amar, não tem jeito, nos entregamos totalmente a esse amor.

Ah, o amor!!! Tão comum em nossas vidas, tão bem retratado em poemas e músicas, tão desejado por tantos que nem sabem o que é realmente o amor. Talvez justamente por não saberem o querem tanto, o idealizam de outra forma.

Então, amor é isso, tão simples e ao mesmo tempo tão grande, que nos queima por dentro, nos faz chorar, nos faz doer, nos faz sofrer... nos faz evoluir. E apesar de tudo, queremos continuar seguindo no amor e por amor, por seus sinuosos caminhos, indefiníveis, mas que, como um passo de mágica, nos conta a todo instante que viver só vale a pena se for para verdadeiramente amar.