São tantas as partes de mim...
e vou tentando
me desnudar
me desfolhar
me descobrir.
Uma parte é mãe.
Levanta à noite
embala os filhos
acende vela
ao anjo da guarda.
Ralhadeira.
Possessiva.
Guardiã.
Diz para si mesma
que os filhos não são seus,
são da vida.
Hóspedes temporários
do seu agasalho.
Carecem de liberdade
para trilhar seus caminhos
evitar os atalhos
conhecer os riscos.
Mas ignora o que diz
e vais tentando
remover as pedras
apontar os riscos
mostrar os atalhos.
Uma parte é mulher.
Olha-se no espelho
e ralha com Deus
que não a fez bonita
atraente
sedutora.
Mas deixa-se guiar
pelas fibras de sua sensibilidade
e reconduz-se ao destino
de tornar-se única
especial
eterna
para alguém.
E neste momento singular
sente-se até bonita
atraente
sedutora
e reconcilia-se com Deus.
São tantas as partes de mim...
uma parte é menina.
Quer correr
brincar
escalar goiabeiras
desconhecer regras
padrões e
conceitos.
Estar desembaraçada
para escolher
assumir
desencantar-se
e carregar seu fardo.
São tantas as partes de mim...
Uma parte é cigana.
Quer correr mundo...
hoje aqui
amanhã acolá...
descortinando as páginas
da sua fantasia,
do que saber existir
além das cercas
de sua limitada existência.
São tantas as partes de mim...
Uma parte é guerreira.
Quer lutar
mergulhar na vida
exaurir seus medos
fragmentar seus limites
resistir
recomeçar.
São tantas as partes...
e me desnudo
desfolho
e me descubro
na inocência da mãe,
na insegurança da mulher,
na inconseqüência da menina,
na ânsia da cigana,
na rebeldia da guerreira...
nos pedaços de mim.
(Desconheço a autoria.)
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