domingo, 8 de novembro de 2009

Divã


Nesse fim de semana, depois de tantos meses à procura, consegui enfim assistir o filme Divã, escrito por Martha Medeiros. E assisti inúmeras vezes, sozinha ou acompanhada. Ri muito, mas só consegui chorar quando consegui absorver a profundidade desse filme tão “água com açúcar”, mas que retrata tão bem a vida.

É um filme que mostra a vida comum de uma mulher comum como tantas por aí, como eu, pintora, que reconhece a felicidade intrínseca em sua vida, mas que, como excelente ser humano que é, está sempre buscando mais, novas experiências, uma nova vida, novos objetivos... novos ares, à procura de se sentir ainda mais realizada. E ela começa dizendo: “minha pintura é pra dar contorno ao que em mim fica solto... e não se enquadra”. Nunca nos contentamos, né? Aos que se julgam satisfeitos, cuidado, pois o “quero mais” fica dentro de você, incubado, até o momento que explode e você mete os pés pelas mãos.

Qual o sentido da vida? O que viemos fazer nesse plano? Nascer, crescer, reproduzir e morrer??? Só isso? Não. Os céticos que também me perdoem, mas isso é vazio demais para a imensidão em que vivemos. Prefiro acreditar que não nascemos, estreamos; que não crescemos; evoluímos; que não reproduzimos, fazemos amor; e finalmente, não morremos, apenas mudamos de plano. A vida é eterna!

Essa mulher, que não é nenhuma Maria, e sim uma Mercedes (nome bastante sugestivo nos dias de hoje para mostrar sua grandiosidade), tem um casamento pra lá de feliz, vida consolidada, mas que, como muitos casamentos de muitos anos, cai na rotina e, de repente, o outro não é mais a paixão, se tornou o amor. Nesse caso, o amor mal cuidado, onde ele não a vê mais, apenas gosta da presença dela ali, então se embaraça para mostrar que ainda comungam dos mesmos ideais. E, quando resolvem se separar ela diz: “Nós não deixamos de nos amar, apenas não nos queremos mais”. Quantas vezes presenciamos isso nos relacionamentos, principalmente nos mais longos?

Ela vive sua vida, cuidando da sua família, trabalhando, compartilhando tudo com sua grande amiga, a qual é totalmente diferente dela, com outros conceitos e ideais. A vida é isso mesmo, né? Uma troca de experiências sem fim. Como os amigos nos ajudam a enxergar algo que não vemos! E passamos a vida como um camaleão, que troca de pele, que troca de cor, buscando encontrar um caminho, já encontrado, e a gente vai caminhando, às vezes a passos lentos, às vezes acelerados, às vezes com muitos tropeços, mas continuamos seguindo.

Muitas vezes nos envolvemos tanto na rotina do dia-a-dia que passamos cegas por ela. Então acabamos por criar, idealizar situações, amores, até nos apaixonamos pelo objeto idealizado, mas deixamos de levar em consideração a única coisa que realmente tem valor, que é o que já temos, já vivemos. Já possuído, já conquistado.

Nesse corre-corre, nessa busca por respostas, deixamos, esquecemos de falar às pessoas à nossa volta o quanto são importantes na nossa vida. Esquecemos o “muito obrigado”, o “eu te amo”, o “que bom que você está aqui”. De repente, pode acontecer que essa pessoa se vá e você ficou com aquilo entalado na garganta, como um espinho de peixe, que sangra.

Mercedes passa todo o filme no divã de seu analista e por ali passa divertidos 3 anos de sua vida, tentando uma maneira de definir a vida dela. Quando ao fim, ela sabiamente conclui que a vida não tem definição, que a vida a gente inventa, a gente faz da maneira que a gente quer, de acordo com nossa idade, nossa evolução. Mas ela entende que, bem ou mal, viver é uma dádiva e um risco constante, onde fazemos nossas escolhas e, assim, pintamos os nossos quadros, até que um dia, possamos nos sentir menos soltos ou que, finalmente, tudo se enquadre.

Um comentário:

  1. A euforia momentânea de olhar a existência como esta coisa que nos foi dada por outrem.Na coincidência da vida que existe em cada um ao nascer não existe nada determinado, apenas o que se há para fazer enquanto se passa o tempo.Que tédio,ainda bem que é curto...

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Status: Psicólogo

Ao psicólogo não é dado o martelo dos juízes, as prerrogativas dos promotores, nem o bisturi dos cirurgiões, somos pequenos clínicos ...