segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A água da minha casa


Certa vez, um amigo fez comigo uma dinâmica muito interessante. Pediu que eu desenhasse como seria a minha casa. A casa que eu gostaria de ter, em detalhes. Ao final, ele disse que aquela casa era eu, e foi explicando todos os rabiscos que eu tinha feito. Muito bacana!

Me lembra aquela música do Legião Urbana, chamada Há Tempos que termina assim: “Meu amor, disciplina é liberdade, compaixão é fortaleza, ter bondade é ter coragem... e ela disse: ‘Lá em casa tem um poço, mas a água é muito limpa”. Com certeza, ela fala de emoções.

A minha casa tinha muita água. Muitos banheiros, piscina, banheira... lugares espalhados por toda a casa em que a água estava sempre presente. Então, ele me disse que a água representa as emoções.

Sou mesmo uma pessoa inundada de sentimentos. Isso é tão forte e tão nítido pra mim que vivo buscando a razão para tudo que faço. Pra não parecer muito doida (mais do que sou), fico racionalizando as coisas e, muitas vezes, abro mão do sentir. Melhor dizendo, continuo sentindo, mas prefiro não deixar transparecer. É como se eu protegesse o que há de mais valioso em mim, não permitindo que as pessoas tenham contato com tanto sentimento intenso, puro e verdadeiro, com medo que alguém possa novamente quebrá-lo.

Se meu amigo me pedisse novamente um desenho, dessa vez o das minhas emoções, acho que ia me faltar papel, pois eu desenharia o oceano. Eu sou um mar aberto! Cheio de emoções que oscilam. Não importa se é dia ou noite, estou sempre ali. Vou me interligando com continentes, outros mares, rios, para poder me sentir completa.

Às vezes, uma baía de pescador, uma água que, embora pareça parada, por baixo, dentro, há muita vida, muito movimento. Quem me vê, acha tudo calmo, tranqüilo. Mal sabem que nessa hora, estou a observar tudo à minha volta e, apesar de não gostar de julgamentos, analiso tudo, levantando prós e contras de todas as pessoas e situações.

Às vezes, sou aquele mar propício a surfistas. Uma água revolta, com ondas enormes, prontas a estourar e levar tudo que há pela frente, sem pesar nada, nem ninguém. E o movimento é exatamente esse; vou puxando pra dentro algumas pressões, até que viram ondas e, quanto maior o tamanho, maior o força pra estourar.

Porém, a maior parte de mim é mesmo o alto mar. Aquele movimento de água constante, mas que não faz mal a ninguém. Pelo contrário, permite que as pessoas naveguem, alimenta muitos seres, tem até um cenário bonito por dentro.

Pensando agora, eu me revelo mesmo na beira da praia. O meu limite é a areia (pessoas). As mais finas, consigo até infiltrar e trazer parte delas comigo, mas as mais grossas eu mexo profundamente com elas, com muita força, puxo com toda força, para depois devolvê-las ao lugar que quiserem ficar, mas não me servem pra muita coisa. É como se eu precisasse da aspereza delas, pra poder mostrar pra mim mesma a minha força.

O que não agüento mesmo é a água parada, água morta, que empoça, que suja, que não tem rumo, não tem finalidade. Essa me incomoda profundamente. E quando vejo pessoas assim, minha vontade é jogar um balde de água pra ver se, pelo menos assim, ela sente o prazer do movimento e resolva, talvez, até evaporar (o que não deixa de ser um movimento).

Sei bem que é difícil viver com toda essa inconstância, mas é o meu jeito de ser. Quero poder, um dia, ser água que se move, sem muitas alterações para que, quem sabe assim, eu possa oferecer maior segurança às pessoas que me cercam, aos seres que, de uma forma ou de outra, de mim dependem.

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