segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Subir pelo lado que desce


"Viver é subir uma escada rolante pelo lado que desce".

Ouvindo esta frase, imaginei qualquer pessoa nessa acrobacia que as crianças fazem ou tentam fazer: escalar aqueles degraus que nos puxam inexoravelmente para baixo. Perigo, loucura, inocência, ou uma boa metáfora do que fazemos diariamente?

Poucas vezes me deram um símbolo tão adequado para a vida, sobretudo naqueles períodos difíceis em que até pensar em sair da cama dá vontade de desistir. Tudo o que quereríamos era taparmos a cabeça e dormirmos, sem pensarmos em nada, fingindo que não estamos nem aí… Porque Tanatos, isto é, a voz do poço e da morte, nos convoca a cada minuto para que, enfim, nos entreguemos e acomodemos.

Só que acomodar-se é abrir a porta a tudo aquilo que nos faz cúmplices do negativo. Descansaremos, sim, mas tornando-nos filhos do tédio e amantes da pusilanimidade, personagens do teatro daqueles que constantemente desperdiçam os seus próprios talentos e dificultam a vida dos outros. E o desperdício da nossa vida, talentos e oportunidades é o único débito que no final não se poderá saldar: estaremos no arquivo-morto.

Não que não tenhamos vontade ou motivos para desistir: corrupção, violência, drogas, doença, problemas no emprego, dramas na família, buracos na alma, solidão no casamento a que também nos acomodamos… tudo isso nos sufoca. Sobretudo, se pertencermos ao grupo cujo lema é: Pensar, nem pensar… e a vida que se lixe.

A escada rolante chama-nos para o fundo: não dou mais um passo, não luto, não me sacrifico mais. Para quê mudar, se a maior parte das pessoas nem pensa nisso e vive da mesma maneira, e da mesma maneira vai morrer? Não vive (nem morrerá) da mesma maneira. Porque só nessa batalha consigo mesmo, percebendo engodos e superando barreiras, podemos também saborear a vida. Que até nos surpreende quando não se esperava, oferecendo-nos novos caminhos e novos desafios.

Mesmo que pareça quase uma condenação, a idéia de que viver é subir uma escada rolante pelo lado que desce é que nos permite sentir que afinal não somos assim tão insignificantes e tão incapazes. Então, vamos à escada rolante: aqui e ali até conseguimos saltar degraus de dois em dois, como quando éramos crianças e muito mais livres, mais ousados e mais interessantes.

E porque não? Na pior das hipóteses, caímos, magoamo-nos por dentro e por fora, e podemos ainda uma vez… recomeçar.

(Texto de Lya Luft)

3 comentários:

  1. ME IMAGINEI LITERALMENTE SUBINDO A ESCADA PELO LADO QUE DESCE E REALMENTE NÃO SERIA FÁCIL MAS NA NOSSA VIDA CONSEGUIMOS MUITO MAIS, SUPERAR PROBLEMAS, VENCER O MEDO, ENFRENTAR OBSTÁCULOS E RECOMEÇAR SEMPRE...

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  2. Taiza a diferença entre o determinismo e o livre arbítrio, é a ação de cada um de nõs.Ninguém melhor que você tem mostrado a cada um de nós seus seguidores neste Blog,que podemos mudar cada coisa e acontecimento que quer nos influenciar,através de nossas escolhas,de nossa persistência,da perseverância de cada um de nós,em busca de resultados diferentes do destino que supostamente nos é imposto.Vamos até o rapaz que controla a escada e fazemos que ELE mude o sentido da mesma.

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  3. É amiga... é isso aí!!

    "Caindo, levantando, sorrindo, chorando, vivendo... s-o-b-r-e-v-i-v-e-n-d-o e acima de tudo recomeçando".

    Temos que ter garra sempre, afinal de contas amanhã é outro dia!

    Bjus Tata..


    Aryane =]

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Status: Psicólogo

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