quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Amiga do acaso



Não acredito no acaso. Muito menos em coincidências. Mas hoje eu vou contar uma história que ainda tem cara de acaso e que foi prazerosa demais para muitas pessoas.
Estávamos num happy hour, numa quinta-feira, no mesmo local de sempre e a mesma turma de sempre. Por “acaso”, nesse dia todas estavam presente, nenhuma faltou. Conversa vai, conversa vem... chega uma mensagem no celular de uma das amigas dizendo mais ou menos assim: “Meninas, não vou poder estar com vocês hoje, pois vou receber visitas. Nos vemos no sábado.”
Como esse nosso encontro é sagrado e sempre convidamos alguma mulher para estar entre nós, ficamos todas curiosas por saber quem seria essa. O número era totalmente desconhecido. Pensamos na Fulana, na Ciclana, na Beltrana... mas todas as possibilidades foram descartadas.
Prontamente, tivemos a idéia óbvia de ligar e descobrir, enfim, quem era a pessoa. Não atendeu! Ligamos de novo. Nada. A nossa curiosidade só aumentava, pois já havíamos tomado algumas bebidinhas e, afinal, era um momento de total descontração e obrigatoriedade do besteirol e do “não ter o que fazer”. Para isso servem os happies!
Resolvi ligar do meu celular. Pensamos que ela podia não ter atendido o celular da minha amiga, pois estava receosa de atender o telefone e ficar dando mil desculpas. Liguei uma primeira vez e não atendeu de novo. Eu, pessoa determinada que sou, disse que tentaria quantas vezes fossem necessárias, até conseguir falar com a tal pessoa. Na segunda tentativa, ela atendeu.
Foi uma festa na mesa! Eram muitas as gargalhadas e a conversa virou uma conferência, pois tudo que ela falava eu repetia e todas participamos da conversa. Só não coloquei o celular no viva voz, porque estávamos num lugar público e todos em volta escutariam e teriam certeza da nossa insanidade mental. Não podíamos fazer isso com uma das amigas, a dona do local.
Quando ela atendeu, perguntei o nome. Ela respondeu prontamente. Então perguntei indignada:
- Como assim “você não vem hoje”? Estamos te esperando! Vem logo!
Ela, claro, não reconhecera a voz, portanto, não sabia quem era. E nós continuávamos a fazer perguntas como se fossemos nós o grupo de meninas que a esperava. E ela, pessoa de muito bom humor, nos dedicou muita atenção, ria muito, se divertia tanto quanto nós do outro lado da linha. E nós insistíamos na pergunta:
- Poxa! Não é possível que você não vem. Já está todo mundo aqui. Só falta você.
Ela ria muito e perguntava:
- Nós quem? Quem está me esperando então? E onde?
- Só vamos responder depois que você disser o porquê desse tamanho de bolo que você está dando na gente.
- É que eu vou ter que fazer um jantar. Vou receber visitas.
- Mas que visita mais inoportuna! Estamos tristes porque você trocou a gente pela sua visita. Quem vai aí?
Ela, morrendo de rir, ia respondendo:
- Uns parentes.
- Ah, bom! Se é parente, então a gente perdoa. E sábado, vamos nos encontrar onde mesmo?
- É que sábado é meu casamento!!! Mas quem está falando?
Foi o êxtase. Aquele tanto de mulher enlouquecida, precisava compartilhar de todos os detalhes.
- Nós somos a turma de quinta, somos todas casadas e estamos aqui (citamos o lugar) todas as quintas-feiras sem falta a partir das 18 horas. Na próxima quinta, se você quiser vir, pode vir, porque queremos saber tudo do casamento.
Ela ria muito do outro lado da linha. As amigas da mesa mais introvertidas, vibravam com a ligação, enquanto as mais extrovertidas, soltavam as perguntas que eu deveria fazer a ela. Nesse “conversê” todo, ela contou muito sobre o casamento: igreja, local da festa, nome do noivo, salão, onde ela ia se arrumar, local da lua-de-mel e quanto tempo ela ficaria lá. Até tentamos indicar um resort, mas ela ia exatamente para esse. Cada vez que era “bingo”, na mesa era aquela euforia e, do outro lado da linha, nossa amiga do acaso.
Claro que tudo que ela ia dizendo íamos dando nossos pitacos, afinal, amiga que é amiga tem que participar, mesmo nessas condições do acaso. Fiz até uma lista de peculiaridades da personalidade do marido dela, baseada no nome dele, que é igual ao de um de meus filhos. Ela até pensou que eu era psicóloga, quando respondi: “Deveria ter sido, mas não sou não.” Gargalhadas e mais gargalhadas. A essa altura do campeonato, já tinha dito meu nome a ela, onde estávamos, algumas características de todas nós.
Então perguntamos se ela tinha colocado a lista de presentes de casamento numa loja meio óbvia daqui, onde todo mundo coloca lista de chá de panela e casamento, porque tem muitos anos de mercado e tem pra todos os gostos e bolsos. Ela, como todas nós ali da mesa, também tinha colocado a lista lá. Prometemos enviar a ela um presente com um cartãozinho assinado pela Turma de Quinta, pois ela havia se mostrado uma pessoa muito gente boa.
A ligação terminou nesse clima agradável de surpresa boa. E nós com os corações felizes por felicitar mais uma união que ia ser celebrada e, de certa forma, nos fazer presente em “parte dele” e de um curto momento da vida dessa pessoa que nem conhecemos.
Ela é tão alma leve que disse que ia agendar meu telefone e que, assim que chegasse de lua-de-mel, iria lá numa quinta-feira pra nos conhecer. Não sei se ela estava de gozação conosco, mas achei isso muito bacana. Nada como ser correspondido! E se fosse gozação também, ela também estaria no seu direito, só retribuindo aquela palhaçada toda. Então, tudo certo.
Fizemos então uma vaquinha e eu, claro, fiquei responsável pelo presente. Fiz um kit erótico bem original pra ela, muito simples, mas com muito carinho e escrevi uma cartinha, ao invés do cartãozinho, afinal, os elementos do kit são coisas do dia-a-dia, mas que precisavam de manual de instrução para ser usado na hora H. Com toda certeza, esse presente o casal ainda não tinha recebido.
Assinei em nome da Turma de Quinta, colocando o nome de todas em ordem alfabética e fazendo mais uma vez o convite para que ela possa estar entre nós, assim que sentir vontade.
A história foi muito divertida e rendeu boas risadas e conversas. Mas eu, cabeça pensante e devaneadora que tenho, estou querendo saber qual o propósito de tudo isso. Por que será que ela “cruzou” o nosso caminho naquela noite? Sim, porque pessoas são anjos e nos são enviados sempre por algum bom motivo.
De qualquer forma, já tenho algo a constatar: educação e bom humor só pode nos levar a caminhos que, mesmo que desconhecidos, são extremamente agradáveis. Correspondidos então, tanto melhor.

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