terça-feira, 31 de agosto de 2010

Esse seu olhar - Tom Jobim


Esse seu olhar,
Quando encontra o meu,
Fala de umas coisas
Que eu não posso acreditar...
Doce é sonhar,
É pensar que você
Gosta de mim como eu de você.
Mas a ilusão,
Quando se desfaz,
Dói no coração
De quem sonhou, sonhou demais...
Ah, se eu pudesse entender
O que dizem os seus olhos!...

Essa música chamada “Esse seu olhar” de Tom Jobim habitou minha mente logo pela manhã, mesmo sem tê-la ouvido há tanto tempo. Eu tenho dessas coisas! Acordo sempre com uma música na cabeça e procuro me atentar no que diz a letra, pois acho que essas coisas sutis sempre têm algo relevante na minha vida.

O olhar expressa muito, é realmente a janela da alma. Quantas vezes nos pegamos sorrindo, mantendo as aparências, mas só o olhar mostra o que é realmente sincero, o que de fato acontece em nosso sentimento. O sorrir, pra mim, é uma atitude constante, uma escolha de vida. O que não quer dizer que eu esteja sempre feliz ou que minha vida esteja sendo um mar cor de rosa pelo simples fato de manter o bom humor e o sorriso na face. Quem me conhece de perto sabe, porque meus olhos não negam o que meu coração sente.

Creio que isso não seja uma peculiaridade só minha, pois consigo perceber isso nas pessoas à minha volta, sejam elas pessoas mais próximas ou não. Consigo perceber a verdade e a mentira nos olhos, que muitas vezes não estão em comunhão com o que a boca ou os gestos dizem naquele momento.

Essa canção retrata o cruzar de olhares, algo que não precisa ser dito, não tem que ter nenhuma explicação, pois os olhos dizem tudo o que há pra ser entendido pela outra pessoa. E entende-se muito claramente! Não são necessárias palavras, gestos... apenas um olhar.

É tudo tão claro, tão óbvio, que achamos ser loucura ler aquele olhar, preferimos pensar que é coisa da nossa mente, que é sempre tão maluca, que vê coisas onde não existe ou que existe, mas não nos permitimos ver.

E desses olhos saem coisas belas, encantadoras, confissões, declarações de amor, uma paz extraordinária... um lugar que gostaríamos de permanecer pra sempre, em silêncio, confortados pela sinceridade daquele olhar. Não é necessário mais nada, apenas aqueles olhos, olhando pra dentro de você, como uma flecha que te atravessa e enxerga tudo o que há por dentro.

Assim vivem os apaixonados quando se encontram. Paixões muitas vezes platônicas, escondidas de Deus e o mundo, até proibidas, mas claramente confessadas num simples encontro de olhares, que torna-se naquele momento um encontro de almas e corações. Dependendo da intensidade do sentimento, não há que esteja por perto que não perceba nitidamente a ligação existente entre essas duas pessoas.

Quando essa paixão não pode ser vivida, seja lá por que motivo for, resta sonhar, imaginar como seria estar com essa pessoa, viver momentos avassaladores, inesquecíveis. Às vezes, são tão grandes os devaneios que fica difícil separar esse sonho da realidade, principalmente quando há um contato mais constante com esse alguém. A paixão é uma coisa louca, inexplicável, cheia de dúvidas, planos, confusões mentais... mas o cruzar de olhares condena, confessa e entrega.

Como é bom imaginar que tudo que sentimos é recíproco, que a outra pessoa também sente, também gosta, também sonha, também quer viver e se entregar, mesmo que não possa. É confortante pra quem ama, pensar que o outro também está envolvido pela mesma nuvem delirante em que você se encontra quando simplesmente lembra da outra pessoa.

Muitas vezes vivemos isso pela vida, em várias fases, às vezes com muitas pessoas. Vamos levando a vida nesse flutuar de ilusões constantes em nossa mente, para talvez tornar a vida menos dolorosa e chata. É a forma de encontrarmos o momento mágico do dia, que nos faz suspirar, sorrir sozinhos em meio ao engarrafamento, olhar pro céu e perceber a sutil diferença entre a cor do ontem e do hoje.

A falta de coragem nos faz viver esses momentos de sonhos, porque o medo de nos entregar nos impossibilita de viver essas paixões. Há muita coisa em jogo, há uma sociedade hipócrita e julgadora à nossa volta, que nos condena, nos aponta, nos faz acreditar que amar é um erro, que se entregar ao bom da vida é feio, sujo e insano.

Então, um dia, essa ilusão se desfaz e quando acontece, existe uma dor fininha, que corta o coração, que nos entristece por dentro, que quebra aquele cristal mágico que tanto brilhava dentro de nós. Desilusões, desafetos e até culpa por se permitir sonhar, habitam nossa alma e perdemos a graça de viver. É quando nos sentimos desmotivados, desestimulados e aquele amor que um dia se chamava Sonho de viver um amor, muda de nome e passa a se chamar Saudade do que podia ter sido e não foi.

Para nos defendermos de nós mesmos, das nossas armadilhas mentais, nos conformamos com o nada e continuamos seguindo pela vida, seja sonhando mais, seja sorrindo menos... o importante é sempre continuar a viver, atentos a novos sonhos, novas paixões e muitos olhares. Porque a vida não tem o menor sentido se não for feita para amar, sempre, de alguma forma, mas seguir amando.

Um comentário:

  1. Voce sempre escreve sôbre o olhar,talvez por isso a memória musical.Me lembro de um texto que dizia que os olhos são a janela da alma,no seu caso é uma porteira aberta,quem tem o seu convívio sabe muito bem decifrar os seus sentimentos no momento que encontra seu olhar.E que olhar...!!!

    ResponderExcluir

Status: Psicólogo

Ao psicólogo não é dado o martelo dos juízes, as prerrogativas dos promotores, nem o bisturi dos cirurgiões, somos pequenos clínicos ...