segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Crenças


No meio de uma tarde ensolarada, comecei a pensar em um amigo que é ateu. Fiquei imaginando como seria minha vida se eu não acreditasse em Deus. Deus, o todo poderoso, o sublime, o onipresente, o onipotente, o Criador...

Não estou falando deste Deus “vendido” pelas igrejas por aí ou pelos hipócritas de plantão. Esse, só existe se existir o Diabo. Bando de covardes! Fogem do espelho, não admitem que o bem e mal está dentro de cada um e usam o nome de Deus ou do Diabo pra se desculparem diante da vida, não honrando nem ao menos suas próprias atitudes.

O Deus que eu acredito é totalmente diferente. Ele independe de qualquer coisa pra existir. É meu amigo, meu companheiro de todas as horas, meu guia. Tão benevolente e piedoso que posso ser simplesmente humana para ele, com todos os meus defeitos e minhas atitudes em tempestiva.

Dêem o nome que quiserem: Jesus, Nossa Senhora, Espírito Santo, Cosmo, Universo... não importa. Eu chamo de Deus apenas. Como pessoa cheia de devaneios que sou, talvez eu até tenha o criado. (Quanta ironia! Eu criei Deus? Só a Taiza Renata mesmo)

Talvez eu tenha feito isso pra nunca me sentir sozinha, pra ter sempre alguém de confiança pra conversar, alguém que não use o que eu disse contra mim, alguém que não me julgue, alguém que me ajude a ser melhor a cada dia, alguém que me conforta, alguém que é tão bom, mas tão bom, que é inconcebível que ele seja o culpado por alguma atitude minha perante a vida ou as pessoas.

Ele não me pune por ser quem eu sou. Pecadora? Não acredito. Não mesmo. Pra que tanto peso se a vida é tão leve? Aliás, cheguei à conclusão que a vida tem o peso que a gente dá pra ela. Filha do pecado? Eu não. Sou dádiva de Deus, uma centelha divina que viaja há milhares de anos tentando se encontrar, que como uma estrela cadente vai seguindo o seu caminho, iluminando rapidamente por onde passa, e que simplesmente passa.

Então, fiquei pensando nesse amigo e em outros que também têm um jeito próprio de enfrentar a vida, sem acreditar na existência de Deus, os chamados ateus. Será que eu conseguiria um dia ser ateu? Com quem eu conversaria? Ou será que o que eu chamo de Deus, eles chamam de consciência?

E a vida e a morte? Como seria? Eu acho que deve ser muito triste pensar que não existe nada além da vida. Simplesmente se nasce, vive-se e, um dia, morre. Sem explicações, sem mas nem porquês. Ponto final. Amassa-se o papel e joga fora. Nem sabe-se onde exatamente se joga. Mas só. O que fazer com as questões básicas da vida: de onde vim, quem sou, pra onde vou (se é que vou)?

Prefiro pensar diferente e fazer da minha vida mais interessante, afinal, a nossa vida é o que a gente acredita. É o que eu acredito e vivencio. Nasci um dia pra ser alguém, fazer algo, aprender coisas, me fazer superar, construir uma história, cumprir uma missão que, depois de cumprida, pode me levar a morte.

Mas a morte não é um fim. Pra mim é um recomeço. Morremos todos os dias com nossas frustrações, nossas tristezas, nossas atitudes impensadas que machucam quem amamos... Mas meu Deus é tão perfeito que me dá a oportunidade de continuar vivendo e correr atrás do prejuízo, pintar um quadro diferente, mais colorido. Se ficar meio manchado, rabiscado, com traços imperfeitos é importante saber que aquela imperfeição tem um porquê, pois ela deu o “it” necessário para chegar à cor desejada.

Todos os dias encontro pessoas que vivem como se tivessem mortas. E dizem acreditar piamente em Deus, mas passam o dia de cara fechada, reclamando da vida, das pessoas, criticando e julgando tudo e todos à sua volta. Pessoas que não sabem cumprimentar quem atravessa o seu caminho, que não são capazes de ajudar o próximo (nem que seja com um sorriso), que não têm gratidão por ter um corpo perfeito ou respirar sem a ajuda de aparelhos. Isso não se chama vida, é a morte constante, absoluta, diária.

Eu, com minha Síndrome de Poliana, prefiro acreditar que a vida é bela, leve, colorida, perfumada, saborosa, macia, que cada um tem a sua (portanto, não adianta querer ser igual ou viver a vida do outro) e isso a faz a mais especial de todas as vidas. Não por competição, mas por gratidão. Claro que “nem tudo são flores”, pois há dias que passam arrastados em tons de cinza, mas sabemos que amanhã haverá outro dia, onde a esperança nos promete que será sempre melhor.

E aí, voltando nos ateus, é impressionante como eles, de uma forma ou de outra, exalam amor, benevolência e respeito. Como pode alguém que não tem a menor noção de Deus ser assim tão cheia de virtudes? Ou será que o Deus deles tem outro nome como, por exemplo, Amor.

O meu Deus existe sim. E me criou para ser uma pessoa feliz, me usa pra ser luz na estrada da vida das pessoas por onde passo, nem que seja uma luz bem fraquinha, igual de vagalume. É o que quero ser, é o que me esforço pra ser. Criou também essa natureza exuberante, cheia de cores, sons, cheiros, espécies... o sol, a lua, o mar, as montanhas...

Acho que meus amigos ateus, que amo tanto, não sabem o quanto eu agradeço pela vida deles, pela presença deles na minha vida, por poder me mostrar que a minha verdade não prevalece, que tenho sempre mais a aprender, muitas figurinhas pra trocar.

Eles não sabem o quanto é consolável dizer: “Meu Deus, cuide dessa pessoa pra mim” e descansar sossegada, na certeza de que estarão bem. Ou ter a certeza que o que você pede é atendido, cedo ou tarde.

Seja lá qual for a verdade, seja lá o ângulo perfeito, o importante é sabermos viver bem com as diferenças, na certeza que encontramos pessoas pela vida para somar à nossa (o que a igreja denomina anjos) e que não importa qual é a sua crença... o mais importante é ser feliz.

Um comentário:

  1. Taiza minha querida,seu texto é lindo,cheio de humanismo e fé.Tenho certeza que seus amigos ateus ficaram emocionados com suas palavras,voce é a representação da vontade deles, da convivência harmônica entre os pensamentos diferentes,isto é o verdadeiro amor.A ética,a moral,o respeito mútuo,a caridade,a compaixão com o sofrimento alheio,a solidariedade,não necessita bandeiras humanas nem sobrenaturais,elas são inerentes aos seres humanos conscientes de seu papel.Muitos beijos.

    ResponderExcluir

Status: Psicólogo

Ao psicólogo não é dado o martelo dos juízes, as prerrogativas dos promotores, nem o bisturi dos cirurgiões, somos pequenos clínicos ...