segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Justiça da vida


Só deseja ter um dia sossegado, quem tem a intensidade à flor da pele, quem acorda suspirando a vida, devorando o dia, se lambuzando de tudo sem conseguir tocar nas coisas com a ponta dos dedos.
Só deseja constantemente a companhia das palavras quem escreve. Para estas, o silêncio nunca é mudo, é sempre uma possibilidade. A escrita ensina a esperar, a escutar a letra da música e depois a melodia, juntas e separadas. A escutar a história do Outro sem fazer intervenções antes da conclusão. A compreender que os espertinhos são aqueles que sempre vão terminar levando uma rasteira da própria ingenuidade, porque perderam a inocência.
Só consegue vislumbrar a paz quem se investiga, quem tem Consciência do que deseja e pode ou não obter, quem aprendeu a lidar com o imediatismo.
Só consegue acordar para a vida, quem viveu solitário e insone dentro de uma noite interminável e caminhou sonolento pelo resto do dia porque perdeu o sol.
Só julga acidamente os Outros o tempo todo quem é recalcado. Quem se aprisionou na ideia do que é ridículo e não consegue suportar um ser autêntico. 
Só consegue ser irônico, quem é inteligente. 
Só consegue ser doce, quem já foi ferido e curado pela espiritualidade.
Só consegue o que quer os que têm desejos justos. E acreditam.


(Texto de Marla de Queiroz)

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