quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Quem havia de dizer - Oswaldo Montenegro



E quando, de repente, atravessando
A mesma rua engarrafada
A gente se encontrar
Eu sei que você vai imaginar
Que como fazem na TV
Uma canção romântica há de vir no ar
Selar o encontro que o corpo sente
E o coração aos pulos quer viver
E quando a gente descobrir que as coisas
Não são mais como propunha o passado pro futuro
Quem havia de dizer
A gente se encontrando e os som dos carros no seu movimento
Encobrindo a nossa falta de assunto
E de prazer
Que a gente finge ter no chopp
Enquanto busca o que dizer
E quando as palavras forem todas repetidas
E o tédio for aquilo que o cigarro disfarçou
E quando entediadas nossa mãos se derem
Não entrelaçadas como até convém
Mas sim como pousadas sem destino
Sua mão em desatino sobre a minha solidão
E quando a nossa dor feita silêncio
Nos fizer virar as costas
Levantar sem qualquer gesto, sem palavras
Sem canção alguma a buzinar no ar
Sem ter remédio ou poesia
Como alguém normal faria
A gente se vê qualquer dia
Grande abraço e quem diria
Sem sequer nos lamentar

Essa música retrata alguns relacionamentos intensos que temos pela vida, estes que jogamos tanto sentimento, tanta expectativa, imaginamos que seria impossível continuar sem a presença doentia dessa pessoa em nossa vida.

Quando tudo termina, bate um desespero, uma vontade de que fosse tudo diferente e um buraco imenso aparece pela frustração de termos sonhado tanto em vão. A tristeza toma conta e tudo o que queremos é tentar nem pensar que esse relacionamento um dia existiu, na esperança de que não pensando, enganemos a nós mesmos e diremos: “o que não existe, não dói.”

Dói. Dói sim. Dói muito e dói no fundo da alma, do coração. Estraçalha e queima por mais que neguemos, por mais que evitemos, por mais que sigamos mentindo pra nós mesmos pela vida.

E de tanto acreditar em nossas mentiras inventadas, o tempo nos banha e tudo vai ficando mais leve, mais distante. O dia de amanhã é sempre melhor do que o hoje. Você percebe que ainda há vida, ainda há pessoas importantes, ainda há relacionamentos verdadeiros, ainda há sentimentos, bons sentimentos.

É quando você resolve assumir sua vida, entende que você é criação divina e, ao mesmo tempo que uma gota do oceano, é de uma grandeza enorme. Você reconhece que o sentimento não acaba, mas que o amor existe para ser divido com muitos, verdadeiramente. Sem medos, sem esperas e, acima de tudo, respeitando a lei da vida.

O tempo continua passando e você, quase esquece. De vez em quando, ela habita seu pensamento, você entende os propósitos de Deus, o porquê de ter conhecido aquela pessoa e os momentos com ela vividos. Dentro de você existe paz novamente.

Mas dentro de você fica a vontade de rever essa pessoa de novo, uma única vez, quem sabe, um dia. Pensa que quando a encontrar, o coração vai querer sair pela boca disparado, que os momentos virão todos à tona, que pode até reviver alguns momentos do passado.

É passado. Passou! Você encontra inesperadamente essa pessoa, numa rua de uma cidade qualquer, sem ter previsionado o reencontro e você não sente absolutamente nada. O coração continua tranquilo, você percebe na outra pessoa a mesma serenidade que você sente e entende que o coração tem sim suas próprias razões, mas também se ilude.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Status: Psicólogo

Ao psicólogo não é dado o martelo dos juízes, as prerrogativas dos promotores, nem o bisturi dos cirurgiões, somos pequenos clínicos ...