quarta-feira, 16 de março de 2011

Peraltices


Certa tarde dessas, me permiti fazer peraltices. Afinal, apesar do meu tamanho e idade, minha alma continua sendo de criança. E criança, mais que ninguém, sabe como e quando fazer suas travessuras, mesmo sabendo o que é certo ou errado. Ah, o errado! Nessas horas ele nos chama com um colorido diferente. Nessas horas ele nos vem com uma aquarela nas mãos e com uma tela enorme branca e nos diz: “Pinta! É sua.”

Então, coloquei a tela debaixo do braço, peguei correndo minha aquarela e me mandei. Sumi do escritório, não atendia mais telefones, apenas ficava online (afinal, ainda resta alguma responsabilidade) e fui fazer um lanche para as amigas na minha casa.

Não qualquer amiga, mas amigas do passado, de 20 anos atrás. Essas que têm sempre um lugar muito especial no nosso coração. Claro que amigos são todos especiais, mas o tempo revela quem as pessoas realmente são, e com o passar dos anos a gente reconhece exatamente o que é uma amizade verdadeira.

Quando juntas, parecíamos ter voltado à nossa adolescência. Os assuntos do passado nos rondavam e as risadas eram soltas e descontraídas. Todas sentadas no chão da minha sala, os nossos olhos brilhavam, não só pelo recordar dos momentos vividos, mas pela preciosidade de estarmos juntas novamente, embaladas pelo mesmo sentimento de amor e amizade, regado à muita sinceridade e, claro, confiança.

Várias foram as confissões, revelações e surpresas. Várias bobagens apareciam e a corda da gargalhada era girada. Chorávamos de tanto rir. Que delícia de tarde!

Claro que falamos de coisas do presente, ouvíamos umas às outras, aconselhávamos dentro do respeito maior por cada uma. A realidade insiste em nos bater a porta sempre, portanto é insano não abrir e viver tudo que está ali à sua mão naquele momento.

Quando olhávamos ao nosso redor, o presente maior era ver a segunda geração reunida. Nossos filhos, praticamente da mesma idade, brincando e se divertindo tanto quanto nós, com um zelo especial um pelo outro.

Olhando tudo aquilo, senti uma paz enorme dentro do peito e agradeci a Deus por aquele momento, por essas amigas, por nossos filhos, nossa leal amizade, nossos vínculos, nossos momentos do passado, nossas aspirações do futuro e pude entender que a felicidade plena é muito mais simples do que se imagina. Basta abrirmos os olhos do coração, aquele puro, igual de criança.

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