quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Beleza


“Beleza se põe à mesa” – é o que sempre ouvi desde que era pequena. Você precisava ser bela para arrumar um bom emprego, um bom marido ou até mesmo emitir uma opinião numa roda e ser ouvida.

Esse é um dos chavões da nossa sociedade mais mentirosos e mais cruéis. Quer dizer, então, que as feias estão fadadas ao fracasso total em todas as áreas da vida? Que nada! Eu conheço mulheres feias que são inteligentíssimas, excelentes profissionais, bom papo, gente do bem e tem muitas outras qualidades. Aí, ainda aparecem alguns sádicos de plantão que ainda completam: “já que não são bonitas, têm que, pelo menos, saber fazer alguma coisa!”

O resultado de tudo isso é um bando de mulheres belas e infelizes, sempre à procura do melhor corpo, do cabelo mais bonito, do corpo mais escultural, da roupa mais chamativa. Só se sentem completas se tem alguém para cultuarem sua beleza. Mas, como a madrasta da Branca de Neve, vive o eterno dilema: “Existe alguém mais bonita do que eu?”

E quando são realmente bonitas por fora, têm dificuldade de mostrar qualquer outro potencial, qualquer beleza interna. A inteligência fica descortinada por trás da beleza. Diante disso, precisam cuidar muito do que está à mostra, pois é a forma que encontraram de serem reconhecidas, seja lá como for.

Enquanto isso, o mercado da moda e da estética crescem assustadoramente, numa velocidade absurda e o que vemos é uma inversão de valores, o aumento do consumismo e a diminuição de virtudes.

Nunca imaginei que a aparência fosse algo tão forte na nossa sociedade. Depois de arrumar meu corpo, estragado por 55 quilos acima do meu peso atual, fico encabulada com a reação das pessoas quando me vêem. É como se eu tivesse me tornado uma pessoa melhor, quando o que mudou foi só o externo, pois o interno continua nublado e em constante transformação. Continuo em busca de mim mesma, cheia de defeitos a serem melhorados.

O que me deixa intrigada é que sempre me disseram que sou bonita, apesar de não concordar. Sei que não sou feia, mas bonita também nunca me considerei. O que acontece agora é que em meio a pessoas que não me conhecem, me sinto como um pedaço de filé (grande, gostoso, suculento e bem temperado) andando no meio de uma platéia de cachorros famintos. Confesso que essa não é uma boa sensação. Não pra mim!

E olha que emagreci há 10 anos, mas só agora fiz minhas cirurgias. Quando eu dizia que ia fazer as pessoas diziam: “Pra que? Você está ótima!” Fico pensando mesmo se as pessoas não tinham razão, pois estava bem de forma que não chamasse tanta atenção. Meu apelido de Nega, passou a ser Barbie. Eu corrigi dizendo que então é Barbie Emília, porque estou cheia de costuras pra todos os lados.

O que é, então, bonito? O externo apenas. É isso que as pessoas colocam à mesa, é isso que é importante para as pessoas. Essas conclusões só reafirmam o que eu já conclui: as pessoas mais certas e coerentes aos olhos da sociedade são as mais vazias e mais insanas aos meu olhos.

Eu acho sim que beleza se põe à mesa, mas aquela que vem de dentro, que você percebe no sorriso, no olhar da pessoa. Belo pra mim são aquelas pessoas que iluminam tudo ao seu redor por onde passam, com seu astral, com sua benevolência, com sua atitude bacana, com o cuidado e atenção ao próximo.

Eu, como tantas, quero sim ser uma mulher bonita. Só espero que minha beleza não seja medida pelo tamanho do meu bumbum ou curvas da silhueta e sim por algo maior que vem de dentro e que realmente possa fazer alguma diferença na vida de quem eu atravesse o caminho.

Um comentário:

  1. Ai Taiza voce é impagável,aquela cena de voce sendo um filé temperado e suculento e um monte de cachorros com suas linguas de fora babando e correndo atrás de voce,e´o máximo da representação cartunista atual,adorei.Mas a vida real, "in" ou felizmente é assim mesmo,ninguém nota e procura aproximar-se num primeiro momento do que não é esteticamente interessante,ninguém enxerga num primeiro momento o que existe por dentro de ninguém,essa observação do interior e a descoberta de novas belezas do indivíduo virão com a convivencia.Na própria natureza das coisas e dos seres viventes é assim,a sedução ocorre pela apresentação externa das sensacões visuais, olfativas e auditivas .Não existe nada de feio em ser bonita e atraente,é uma qualidade a mais e não um desmerecimento.O resto vem com o tempo,parabéns pela sua beleza,beijos...

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Status: Psicólogo

Ao psicólogo não é dado o martelo dos juízes, as prerrogativas dos promotores, nem o bisturi dos cirurgiões, somos pequenos clínicos ...