segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Ausência


Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar 
Os teus olhos que são doces


Porque nada te poderei dar senão a mágoa 
De me veres eternamente exausto.


No entanto a tua presença 
É qualquer coisa como a luz e a vida


E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto 
E em minha voz a tua voz.


Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado


Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados


Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada


Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.


Eu deixarei... 
Tu irás e encostarás a tua face em outra face


Teus dedos enlaçarão outros dedos 
E tu desabrocharás para a madrugada


Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, 
Porque eu fui o grande íntimo da noite


Porque eu encostei minha face na face da noite 
E ouvi a tua fala amorosa


Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço


E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.


Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos


Mas eu te possuirei mais que ninguém 
Porque poderei partir


E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz serenizada.


(Texto de Vinícius de Moraes)






Um comentário:

  1. nossa Taiza que coisa mais funesta esta tal de ausência,cruz-credo,tá amarrado,sai coisa ruim...

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