quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um dia por vez - 18/09/10 - Uma tarde de meninos


A tarde hoje foi, no mínimo, interessante.

Meu filho mais velho fez uma reunião de grupo com três amigos de escola, em pleno Sábado, para fazerem um trabalho de Geografia que ainda está longe da data de entrega. O tema era a música Planeta Azul do Chitãozinho e Xororó.

Gostei do antes, durante e depois de todo o processo. Do antes, pela forma como meu filho organizou a reunião com os amigos, liderando o grupo com responsabilidade, dividindo a tarefa entre todos e até conversando com os pais dos colegas para que todos pudessem estar presentes. Claro que nessa hora a “mãetorista” entra em ação pra levar e buscar meninos. Antes disso, no almoço, as chamadas pra irmos embora eram constantes, afinal, havia um compromisso a ser cumprido.

Então, turma reunida, todos em casa, pedi que fizessem silêncio para fazerem o pequeno dormir e fiquei no quarto, de onde escutava toda a organização da turma. Um deles chegou com três instrumentos de corda: um violão pequeno, um de tamanho normal e uma viola. Achei exagerado, mas fiquei quieta, imaginando no que aquilo tudo ia virar.

Meu filho tirou a música no violão. Uma graça!!! (Mãe coruja baba mesmo. Risos...) Tocava incansavelmente, decorando a música, corrigindo acordes e ritmo. Outro deles ficou responsável por fazer a letra da música num cartaz, enquanto o outro desenhava.

Entre afazeres escolares e música, eles conversavam sobre as meninas da escola, sobre acontecimentos em família, sempre com um tom de grande importância de quem contava e atenção absoluta de quem escutava. Dependendo do assunto, os olhos saltavam ou as gargalhadas saíam gostosas.

Por se tratarem de meninos, eles não conseguiam fazer o trabalho e conversar ao mesmo tempo. A cada assunto novo, tudo parava. Aí era o interlocutor com sua platéia bastante atuante.

Num certo momento, eu via que os acordes estavam totalmente destoados e fui até lá dar uma força pra eles. Nesse momento, percebi que, apesar das conversas, brincadeiras e risadas, o trabalho rendia. A mesa estava organizada e cada qual fazia o papel que lhe foi designado.

Depois de dar uns "pitacos", me retirei novamente, para que pudessem se sentir bem à vontade e pra que não parecesse a minha imagem de mãe chata e super zelosa. Acho isso horroroso, enquanto a maioria das pessoas acha ser o ideal. Ainda penso que a medida certa está no equilíbrio.

Mais tarde, meu filho entra no quarto dizendo que estão todos com fome e perguntou se eles poderiam ir até a padaria próxima fazer um lanche. A mãe zelosa e chata, que falei um pouco acima, preferiu servir um lanche pra todos, bem ali, debaixo das asas dela.

Aproveitei esse momento pra me juntar a eles. Pude então observar a educação de cada um, por meio de palavras usadas, do uso das palavras mágicas, do mastigar para depois conversar, dos arrotos pra fazer uma graça, do recolhimento do prato da mesa levando até a pia. Pude também perceber nos rápidos momentos quem falava mais, quem observa mais, quem se mostrava mais... Era a hora do radar de mãe entrar em ação. Também soube naquele momento a condição familiar e financeira de cada um e os valores passados a cada filho (e por quem).

Sem concordar com tudo, mas querendo sentir os meninos, me meti no meio da conversa deles, contando casos da minha época estudando na mesma escola, falando das notas baixas que eu tirei, perguntando das meninas, dizendo quem tinha cara de que... virei amiga da turma. Havia fila pra contar coisas novas. Alguns não se continham e falavam mais alto pra se fazer ouvir.

Foi uma tarde de confissões. E que confissões! Eles falaram sobre sexualidade, drogas, família, valores, programas e jogos de computador, contaram-me casos absurdos e tudo que eles faziam escondido. Um deles ficou mudo e de olhos arregalados, enquanto os outros se confessavam. Só abriu a boca pra dizer: “Nossa! Se eu falar essas coisas perto da minha mãe ou ela imaginar que eu falo essas coisas, ela briga comigo e me põe de castigo”.

Mas naquele momento eu era cúmplice dos meninos, ao mesmo tempo, uma orientadora legal. Até que chegou o momento em que perguntei: “Como sou mulher, tem coisas que acontecem com os homens que não consigo entender. Por que é que vocês gostam tanto de ficar olhando mulher pelada?”

Pronto! Foi o pico das revelações. Soube algumas coisas que aconteciam entre eles que jamais imaginava. Eles me contaram com tanta inocência que eu ria, mas explicava como e porque as coisas deviam ser como eu orientava. Nesse meio, meu filho disse aos colegas: “Minha mãe é meio doida, sabe? Quando eu era pequeno, ela dizia que ia comprar uma coleção de cartucheiras pra espantar as meninas da porta aqui de casa. Agora, sabe o que ela diz? Que vai me dar uma caixa de camisinha. Pensa bem na troca! Cartucheiras com camisinhas.” Os meninos fizeram cara de surpresa boa. Por um momento fiquei pensando se essa minha atitude era inconseqüente demais ou sábia demais. Ainda não sei a resposta.

A tarde foi tão agradável que fizemos até um acordo, o qual não me submeto a colocar no blog porque é uma peripécia daquelas muito gostosas, bem de adolescente que está ganhando o mundo. Eles ficaram exaltados com minha proposta e a condição, claro, era a melhoria das notas na escola. Se um do grupo falhasse, prejudicaria o grupo todo e ficariam todos a ver navios.

Depois de deixar todos em casa, todos muitos felizes e eu com um sentimento gostoso de confiança no peito, fui tomar um banho e fiquei pensando na frase do meu filho: “É, mamãe. Hoje eu tive certeza que a senhora é mesmo uma mãe muito legal.” Senti um orgulho enorme disso, me perguntando se eu não teria sido muito liberal para a idade, se meu comportamento e conselhos diante deles tinham sido assertivos.

Lembrei-me de uma tia (que chamava de tia por educação e carinho) que era muito especial. Eu vivia dizendo pra minha mãe que eu gostaria que ela fosse legal como ela. Ela também era mãe de três homens, como eu. Até hoje quando nos encontramos tenho total liberdade de comentar tudo com ela, na certeza que dela terei atenção, apoio e carinho. Adorávamos freqüentar a casa dela e nos sentíamos completamente à vontade.

Me dei conta que estou entrando numa outra fase da vida, do papel de mãe de criança para papel de mãe de adolescente. Talvez uma mãe mais adolescente do que todos eles juntos. Senti-me em casa com essa turminha. Eu era apenas mais uma entre eles.

Só quero poder alimentar essa confiança deles em mim, manter-me sempre presente (mesmo que distante) e ter o discernimento necessário para orientar de forma livre essas novas mentes, muito mais ágeis e inteligentes que os adolescentes da minha época, para que se tornem adultos de bem, de caráter, principalmente, felizes e bem resolvidos com a vida.

Um comentário:

  1. Adoooro!!! Olha amiga se esse charme de menino continuar puxando você pode começar a contratar alguém pra atender o telefone e organizar a agenda! rsrsrs...
    Beijos!

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Status: Psicólogo

Ao psicólogo não é dado o martelo dos juízes, as prerrogativas dos promotores, nem o bisturi dos cirurgiões, somos pequenos clínicos ...