terça-feira, 21 de setembro de 2010

Roda Viva - Chico Buarque


Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino pra lá

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira pra lá

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola pra lá

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade pra lá

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

Tenho cantado bastante essa música, mesmo sem tê-la ouvido. Parei pra pensar de onde surgiu e descobri que a minha Roda Viva está em ação, talvez por isso ela não me sai da cabeça.

Tem um ditado que diz que “agosto é o mês do desgosto”. Eu passei por ele ilesa. Em compensação, esse setembro tem me pregado cada peça... as quais não estavam no script.

Aí, me lembrei que comecei o mês de setembro cheia de boas perspectivas, blogando a música do Beto Guedes que começa assim: “quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos...” Porém, nos meus campos, em todas as áreas da vida, meus campos se encheram de praga.

A música de Chico Buarque retrata exatamente como venho me sentindo. Colocamos tanta energia numa coisa, num projeto, numa pessoa, num sonho que, quando não conseguimos realizar, sentimos no peito um desalento, um desânimo que, para alguém intenso como eu, beira a depressão.

A sensação é como se Deus, lá de cima, me tivesse puxado o tapete e entao eu cambaleei num 360 graus e quase caí. Mas até nisso eu tenho sorte, primeiro por ter sido Deus o puxador do tapete e isso me dá a certeza de que o melhor está por vir, pois Ele só permite esses tormentos para que possamos crescer mediante às experiências vividas. Segundo, porque a virada foi de 360 graus, me permitindo ficar exatamente no mesmo lugar onde estava antes da puxada. Sinal que não perdi o meu eixo e que não é qualquer puxada de tapete que me derruba. Mesmo sendo com a força do Todo Poderoso.

Nesse movimento louco e inesperado, me sinto um tanto perdida, tonta, pois tantos planos foram feitos na certeza que nós somos quem traçamos o nosso destino e somos autores da nossa história, mas a Roda Viva da vida gira e nos distancia do nosso objetivo maior.

Tenho uma prima budista que diz: “Taiza, quando você entender que tudo passa, você vai encontrar paz para o seu coração. As coisas ruins passam, as boas também, entao só temos que aceitar que é assim e sermos felizes, seguirmos adianate”. Essa frase, assim como essa música, também tem habitado minha mente nos últimos tempos. Pôxa, se as coisas ruins passam, nada mais justo que as boas também passarem, se não a vida seria muito sem graça, sem tropeços, sem surpresas, sem chances de amadurecimento, sem histórias pra contar. Portanto, quero tomar banho nessa chuva de tempestades (de roupa e tudo) e esperar chegar a bonança tão merecida.

Imagine-se dentro de uma caixa fechada, na escuridão. E você sabe que um chute mais forte, certeiro, simplesmente rasgará essa caixa e voce encontrará a luz. Mas voce se contem, pois sabe que rasgar a caixa é um grande prejuízo e, como voce pode ver os raios de luz que adentram pela caixa, certo de que lá fora há o céu. Você só precisa esperar o momento certo para que ela seja aberta, até lá você tem tempo para planejar os meios que vai usar para sair dali definitivamente.

Meio louco, né? Mas é assim que me sinto. Presa em mi mesma, com toda a dificuldade à minha volta, mas nada do outro mundo, coisas do cotidiano, que se acumulam e me pressionam contra a parede, me deixando sem ar e sem ação.

Sei que tudo é efêmero e que tudo consiste para o melhor. Sei também que o tempo de Deus é diferente do meu, e confio que o Dele seja o mais exato. Encontro-me numa excelente oportunidade de trabalhar a minha ansiedade e paciência. Sei que sou capaz de vencer essa etapa que, pra mim, não passa desse mês. (Afinal, pensamento positivo é tudo! Risos...)

Nessa “tsuname” toda, eu vou tentando surfar, ao invés de tomar um bom caldo. Por isso, vou agindo com cuidado, para que possa, ao menos, poder ajudar as pessoas envolvidas em todo processo, não causando mais danos do que já se encontram no cenário. Procuro manter meu coração tranqüilo, na certeza que o plantio é opcional, mas a colheita obrigatória.

No campo minado da vida, é preciso ser sábio, ter discernimento e temperança para que as voltas que o mundo dá, que são gigantes, não nos tire do eixo e possamos aproveitar a oportunidade para aprender e, quem sabe, renascer.

A única certeza que tenho é que, de fato, vivemos ciclos e ciclos, que vão e vem, trazendo estragos e levando aprendizados, pois a vida nada mais é que uma constante de ilusões que vamos alimentando e vivendo, deixando no caminho nossos melhores rastros e, apesar de tantos devaneios, a vida real vai sendo escrita.

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