domingo, 20 de junho de 2010

Ditos populares


Sou uma mulher que gosto de frases feitas, alguns chavões que não me canso de encaixar no meio de conversas ou brincadeiras. Acabo percebendo que não faço isso sozinha, pois todo mundo tem esse costume, coisas que aprendem com as gerações passadas, partes de músicas ou personagens da TV.

Com o vasto universo de frases à nossa disposição, não se faz necessário inventar frases de efeito, afinal as que existem por aí são tão boas e marcantes. Porém, vez ou outra me pego inventando algumas, embora nunca me lembre de anotá-las. Talvez, se marcasse, as próximas gerações poderiam aproveitá-las. E olha que é cada pérola que sai, que eu nem sei de onde vem. As pessoas se divertem com elas e eu, muito mais, ao perceber que com algo tão pequeno consigo algumas boas gargalhadas.

Tem um poema chamado Metade, do Oswaldo Montenegro, que ele deve ter escrito num momento em que incorporei nele, pois ele fala por mim, frase a frase. Entre todas tem uma que me chama a atenção, que diz: “que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor, apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos”. Lindo, né? Vai ver que é por isso que não anoto, pra não virar mais um desses tantos ditados populares que só servem para nos desculpar de algo que deveríamos ter feito e não fizemos. Quer ver?

“Deus ajuda a quem cedo madruga” – Tem coisa mais sem nexo? Gente! Pedreiro, servente, empregada doméstica, padeiro e muitos outros acordam antes do próprio sol nascer e, na grande maioria das vezes, passam a vida estabilizados, numa escravidão sem fim, em busca de algum dinheiro para conseguir se manter. Com certeza, quem inventou foi um alto empreendedor que adorava acordar tarde e, por ser muito inteligente, colocou as pessoas para fazerem o trabalho braçal ou o mais cansativo.

“Está no inferno, abraça o capeta” – Cruz credo!!! Acho que a intenção deste é dizer que a gente tem sempre que arrumar uma solução para os momentos difíceis ou olhar o lado bom das coisas. Eu inventaria algo como: está no inferno, não esqueça o extintor e procure a primeira saída. Eu, heim?

“O amor é cego” – Acho que essa ficou muito incompleta porque quando amamos ficamos, além de cegos, surdos, mudos e retardados. Falando em cegueira, tem também “Tem pai que é cego”, mas se fosse só pai a gente até dava um jeitinho, mas tem tanta gente cega por aí. O mais triste é que “o pior cego é aquele que não quer ver”. Concordo plenamente.

“Quem espera sempre alcança” – Quem garante? Ouvindo isso me dá uma sensação pesada de comodidade absoluta, de quem nunca se move atrás de seus objetivos, esperando sempre que as coisas caiam do céu. Talvez seja inventada para que possa trabalhar a paciência dos ansiosos como eu. Mas a minha pergunta é: por que esperar pra alcançar, se eu posso alcançar bem rapidinho, se me propor a correr atrás do que quero? E tem mais, “boi que chega primeiro bebe água limpa”.

Tem alguns que são muito engraçados porque, quando ouvimos temos a nítida sensação do que a outra pessoa quis dizer. Por exemplo: “estou correndo mais que azeitona em boca de banguela”. Imagina só um banguela comendo uma azeitona, ela escorrega de um lado pro outro, meio desordenadamente e desliza, desliza até que se chegue ao caroço.

Ou então: “estou mais perdido do que cego em tiroteio”. Olha o cego aí de novo. Mas visualiza um capo de batalha e um cego no meio, ouvindo tiro de tudo quanto é lado sem saber pra onde ir. Teria sensação de se estar mais perdido do que essa?

Alguns são infalíveis como “Neblina na serra, chuva na terra. Neblina na baixa, sol que racha”. Esse é muito usado e observado no meio rural até hoje, coisa que a climatologia confirma.

“Águas passadas não movem moinhos” – Não mesmo. Elas já passaram por ele e seguiram seu percurso. Ela nos mostra que ficar remoendo o que passou de nada vai adiantar para caminharmos adiante ou fazer qualquer coisa funcionar, afinal “quem vive de passado é museu”.

“Cada macaco no seu galho” foi remodelada nos últimos tempos com a famosa “cada um no seu quadrado”. Expressões que impõe limites ao espaço de cada um, pois respeito é algo que cabe sempre em qualquer lugar, principalmente quando o “lugar” é o outro.

E por aí vai. São tantos ditos e tantas frases que se eu fosse falar de uma por uma, meu texto viraria um livro, com toda certeza. Mesmo assim, hoje, resolvi registrar esses meus devaneios em cima de costumes da Língua Portuguesa, que vêm sendo passado de geração a geração e são sempre muito usados, quando não encontramos a palavra certa.

Sei que poderia ter escolhido um tema melhor, mas também sei que “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”.

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