segunda-feira, 31 de maio de 2010

Uma história de Macedo


Macedo é um maranhense, moreno, alto, gente boa, signo de Câncer, garçom de um restaurante à beira do lago em Brasília e, acima de tudo, um homem de atitude.

Era noite de lua cheia... linda, esplêndida no céu, iluminando a alma dos apaixonados e abrindo o coração de quem não tem uma paixão. Talvez tenha sido este o motivo de Macedo estar tão romântico aquela noite.

Demos a sorte de sentarmos ali, na praça do Macedo, o qual não nos dava muito atenção de início. Como a turma era animada, tudo era motivo de graça e, com jeitinho de quem sabe o que faz, joguei logo um estímulo positivo e o Macedão começou a mostrar para o que veio ao mundo. (Risos)

Depois de incentivá-lo bastante, dizer que tínhamos ido pra lá pra conhecer o melhor garçom de Brasília e atestar se ele tinha mesmo todo aquele potencial, Macedão não nos abandonou mais, com exceção de um breve momento em que se atracou num daqueles matinhos (ou no banheiro, não sei) com um amigo nosso, o qual prefiro não citar o nome para não comprometer, assim como prefiro pular essa parte, pois não sei escrever sem entrar em detalhes, os quais preferi nem saber.

Nada melhor que o estímulo positivo, né? Como eu fui a pessoa que “acionou” o Macedo, logo ele veio com um botão de rosa vermelha e me entregou. Disse que gostou de mim. Lógico, não tinha como ser diferente, afinal, cheguei fazendo os maiores elogios, o que o deixou todo alegre. Nosso amigo ficou um tanto enciumado, mas se conteve civilizadamente.

Ficamos impressionados com a autoconfiança do Macedo, afinal, isso não é muito de praxe para um garçom comum, muito menos do Maranhão, onde "os cabras" resolvem tudo com "uma boa duma peixeira".

Como se não bastasse, quando pedimos uma tequila, ele a trouxe num pratinho cheio de pétalas de rosa forrando o copo. Confesso que a imagem ficou bonita e, mais uma vez, a criatividade e o romantismo do Macedo nos surpreendeu. Dali por diante, não era mais Macedo, afinal, ficamos íntimos do “Cedinho”, o qual não saia mais de perto da nossa mesa, dando toda a assistência necessária e, claro, foi o assunto da nossa noite. Pegamos Cedinho pra Cristo e ele, muito habilidosamente, se safava ou entrava na dança da roda.

Cedinho atendia todas as mesas e não desgrudava os olhos de nós. E ele era rápido, tanto nos pensamentos como em suas atitudes. Graças a ele, nossa noite rendeu um bocado, principalmente a do nosso amigo, que, segundo soube, tem uma bruta queda por afro descendentes. Mas, como prometi, sem comentários. Entrar na intimidade das pessoas assim, considero um hábito muito indelicado e, para a parte envolvida torna-se um imenso constrangimento entrar na sua intimidade. Portanto, melhor respeitar.

E a noite foi pra lá de agradável... turma boa, ambiente agradável, gente bonita, presença de Deus iluminando o céu, muitas brincadeiras, risadas à solta e, claro, a presença do Macedo que não marcou apenas aquela noite, mas a vida de todos ali presentes pra sempre, em especial a do nosso amigo.

Pensa que a noite acabou por aí? Engana-se! Quando fechamos a conta, Cedinho aprontou mais uma das suas: veio com uma garrafa de espumante e taças para todos, as quais usamos para brindar a presença do Cedinho em nossa noite.

Primeiramente, imaginamos que ele tinha pagado a bebida como um gesto de gratidão e delicadeza conosco (talvez até como declaração de amor a algum da roda), mas depois ele confessou que a casa oferece aos aniversariantes. Ele disse que era o meu aniversário e fechou a noite com chave de ouro.

Ah, Cedinho, Cedinho... você nos proporcionou uma noite de muita diversão, regada a rosas e champagne. Você é O CARA e vai ficar guardado com muito carinho em nossos corações.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Mudanças


Engraçado como a mudança mexe conosco. Imprescindivelmente, a vida é feita somente disso. Mudamos a todo momento, abrimos e fechamos ciclos, um atrás do outro, a maioria deles inconscientemente.

Passamos da morte para a vida, de bebê para criança, de criança a adolescente, de adolescente a adultos, de adultos à velhos e enfim, caminhamos para a morte para, quem sabe, depois renascer.

Mudamos de ano e os janeiros recomeçam todos iguais, mas pelo fato da mudança do ano, fazemos novos planos, traçamos novas metas, sentimos a necessidade de mudar, fazer algo que ainda não fizemos para, depois de pronto, começarmos outra etapa.

Na escola, todo ano é aquela expectativa. Pode até ser a mesma escola, mas mudamos de série, de turma, conhecemos novas pessoas, novos professores, novas matérias. Vamos entendendo o funcionamento da vida e moldando, passo a passo, a pessoa que somos hoje.

É claro que no meio de tantas mudanças muitas questões aparecem e muitas delas nos motivam a mudar também, seja o visual, nossos conceitos, nosso modo de pensar e agir... e por aí vai.

Mudamos também a aparência, tentando seguir as mudanças da moda. Mesmo aquela pessoa que nunca mudou o corte de cabelo ou a cor, muda com as roupas e os acessórios do momento.

Mudamos de casa, de cidade, de país. Mudamos de carro, de roupa, de sapato.

Mudamos de estado civil, de solteiro para casado, de casado para divorciado, talvez para casado de novo, ou para por aí.

Dentro do nosso coração, existe um “bichinho carpinteiro” que pede mudanças. No âmbito afetivo também queremos mudar. De repente, estamos com alguém e pensamos que encontramos nossa alma gêmea. Namoramos longamente, achamos que a pessoa sempre tem mais virtudes que defeitos ou tapamos os olhos para o que há de ruim, até que nos casamos.

Mudanças e mais mudanças. Quando nos acostumamos com a vida de casados, vem o primeiro filho. Depois o segundo. E se você resolve ficar só com um, a sociedade te cobra isso, como se o fato de não querer mudar fosse errado.

Mas eu tenho uma boa notícia! Mudança é sempre bom. Por mais que você pense que errou ou está errando, a mudança sempre vem para o bem. Nós mudamos o tempo todo e isso é vital para o ser humano.

Portanto, não se assuste se algo está te impulsionando a mudar. Seja uma questão na área profissional ou amorosa. Experimente! Há de ser muito bom para você.

Só não caia no erro de pensar que tudo o que parece bem haverá de ficar como está, porque as mudanças virão. Só esteja pronto para elas e aproveite-as.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Um dia por vez - 27/05/10 - Ela


Impossível passar por ela sem percebê-la e imediatamente se encantar completamente. Uma pessoa pequena, talvez nem 1,50 m de altura, mas que parecia ser a única coisa menor dentro de si, a estatura.

Chegou rapidamente brincando pelos corredores, cumprimentando todo mundo, fazendo brincadeiras com as pessoas e com a cadeira de rodas, na qual se locomovia com total alegria e “gingado”.

Sua mãe a acompanhava para aquele momento tão delicado aos olhos de tantos, mas não pra ela. Ela estava radiante por fazer a quimioterapia, tomar um outro soro que eu não sei pra que servia, mais alguns comprimidos e duas injeções.

Ela usava em sua cabeça um lenço muito bonito, amarrado com todo cuidado, de forma que ficou um verdadeiro charme. Sobre ele um chapéu branco com um laço, tudo muito elegante para tampar as penugens de sua cabeça que começam a renascer.

Como uma menina peralta, pulava da cadeira para a cama, toda faceira, pronta para tomar a medicação que seu oncologista havia lhe indicado.

Ao lado da cama dela, tinha uma companheira, também careca e em tratamento, com a qual trocava figurinhas. Os assuntos eram cirurgias já feitas e a fazer, quimioterapias, radioterapias, histórias de outras companheiras de jornada e, na televisão, outra história de superação – um menino de 18 anos que saiu da favela pra entregar pizza, ato que era costume do irmão de 20 anos, e quando voltou, toda a família (pai, mãe e irmão) estavam soterrados, pois o morro no qual morava havia desabado com as chuvas.

Mas ela era só alegria!!! Seu alto astral era contagiante. Seus braços inchados de tanto remédio na veia, mais pareciam daqueles homens halterofilistas. Mas tudo era motivo de brincadeiras e contos. Contou até de um dia que pegou um táxi e seus cabelos começaram a esvoaçar dentro do carro, o que assustou muito o taxista. Seria cômico se não fosse trágico! E ela gargalhava, sem dó nem piedade, não ligando para o lado ruim da coisa, tornando de fato tudo muito divertido.

Por um instante, senti um tremendo mal estar na alma. Uma sensação de ser esnobe por ter saúde, ter culpa por estar ali fazendo um tratamento para uma cirurgia estética, enquanto as outras buscavam num tratamento incerto um suspiro a mais de vida, alguns dias a mais juntos dos seus. Senti-me completamente pequena e fútil diante delas, como se me faltasse tanto ainda para poder ser gente de verdade.

Confesso que senti vergonha, não só por estar ali, mas por querer melhorar minha aparência, tirando excessos que me incomodam nas pernas, enquanto muitas delas ali mal tinham veias para tomarem seus medicamentos.

Pobre Taiza Renata! Durante tantos anos não me importei com a minha aparência, achando que isso era uma tremenda falta do que fazer, algo que pensei que fosse até uma desculpa para ter o corpo que eu tinha. Quando resolvi mudar de postura, entendendo que o corpo é nosso primeiro templo, mudei também alguns conceitos, até para buscar consistência para meus novos atos.

Mas, vamos voltar nela. Acho que faltou um detalhe muito importante, que descobri quando o enfermeiro foi preencher sua ficha: o nome. Se quiser saber o nome dela... ela, aquela pessoa que transpira a vida em tudo que faz e que fala, principalmente onde se assombra a morte... só pra confirmar que o acaso não existe e que a vida é muito sábia... seu nome é Vida Eterna de Queiroz!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Solidariedade - Rubem Alves


Será possível ensinar a beleza de uma sonata de Mozart a um surdo?
Há coisas que não podem ser ensinadas.
Elas estão além das palavras. 

"Se te perguntarem quem era essa que às areias e aos gelos quis ensinar a primavera...”: é assim que Cecília Meireles inicia um de seus poemas.
Ensinar primavera às areias e aos gelos é coisa difícil. Gelos e areias nada sabem sobre primaveras...
Pois eu desejaria saber ensinar a solidariedade a quem nada sabe sobre ela.
O mundo seria melhor.
Mas como ensiná-la?
Será possível ensinar a beleza de uma sonata de Mozart a um surdo?
E poderei ensinar a beleza das telas de Monet a um cego?
De que pedagogia irei me valer?
Há coisas que não podem ser ensinadas, coisas que estão além das palavras.
Cientistas, filósofos e professores são aqueles que se dedicam a ensinar as coisas que podem ser ensinadas por meio das palavras. Sobre a solidariedade muitas coisas podem ser ditas.
É possível desenvolver uma psicologia da solidariedade, ou uma sociologia da solidariedade, ou uma ética da solidariedade...
Mas os saberes científicos e filosóficos sobre a solidariedade não ensinam a solidariedade, da mesma forma como as críticas da música e da pintura não ensinam a beleza da música e da pintura. 
A solidariedade, como a beleza, é inefável – está além das palavras. Palavras que se ensinam são gaiolas para pássaros engaioláveis. Mas a solidariedade é um pássaro que não pode ser engaiolado. Não pode ser dita.
A solidariedade pertence à classe de pássaros que só existem em vôo. Engaiolados, eles morrem.
Walt Whitman tinha consciência disso quando disse:
“Sermões e lógicas jamais convencem. O peso da noite cala bem mais fundo em minha alma...”
E Fernando Pessoa sabia que aquilo que o poeta quer comunicar não se encontra nas palavras que ele diz: ela aparece nos espaços vazios que se abrem entre elas, as palavras.
Nesse espaço vazio se ouve uma música.
Mas essa música – de onde vem ela se não foi o poeta que a tocou?
O que pode ser ensinado são as coisas que moram no mundo de fora: astronomia, física, química, gramática, anatomia, números, letras, palavras.
Mas há coisas que não estão do lado de fora, coisas que moram dentro do corpo. Estão enterradas na carne, como se fossem sementes à espera...
Sim, sim! Imagine isto: o corpo como um grande canteiro!
Nele se encontram, adormecidas, em estado de latência, as mais variadas sementes. Elas poderão acordar, como a Bela Adormecida acordou com um beijo. Mas poderão também não brotar.
Tudo depende...
As sementes não brotarão se sobre elas houver uma pedra. E também pode acontecer que, depois de brotar, elas sejam arrancadas...
De fato, muitas plantas precisam ser arrancadas, antes que cresçam: as pragas, tiriricas, picões...
Uma dessas sementes é a “solidariedade”.
A solidariedade não é uma entidade do mundo de fora, ao lado de estrelas, pedras, mercadorias, dinheiro, contratos.
Se ela fosse uma entidade do mundo de fora poderia ser ensinada e produzida.
A solidariedade é uma entidade do mundo interior.
Solidariedade nem se ensina, nem se ordena, nem se produz.
A solidariedade tem de brotar e crescer como uma semente...
Veja o ipê florido! Nasceu de uma semente. Depois de crescer não será necessária nenhuma técnica, nenhum estímulo, nenhum truque para que ele floresça.
Angelus Silesius, místico antigo, tem um verso que diz: “A rosa não tem porquês. Ela floresce porque floresce”.
O ipê floresce porque floresce. Seu florescer é um simples transbordar natural da sua verdade.
A solidariedade é como o ipê: nasce e floresce.
Mas não em decorrência de mandamentos éticos ou religiosos.
Não se pode ordenar: “Seja solidário!”
A solidariedade acontece como um simples transbordamento: as fontes transbordam...
Já disse que solidariedade é um sentimento.
É esse o sentimento que nos torna humanos.
A solidariedade me faz sentir sentimentos que não são meus, que são de um outro.
Acontece assim: eu vejo uma criança vendendo balas num semáforo. Ela me pede que eu compre um pacotinho das suas balas. Eu e a criança – dois corpos separados e distintos.
Mas, ao olhar para ela, estremeço: algo em mim me faz imaginar aquilo que ela está sentindo.
E então, por uma magia inexplicável, esse sentimento imaginado se aloja junto dos meus próprios sentimentos.
Na verdade, desaloja meus sentimentos, pois eu vinha, no meu carro, com sentimentos leves e alegres, e agora esse novo sentimento se coloca no lugar deles.
O que sinto não são meus sentimentos.
Foram-se a leveza e a alegria que me faziam cantar.
Agora, são os sentimentos daquele menino que estão dentro de mim.
Meu corpo sofre uma transformação: ele não é mais limitado pela pele que o cobre. Expande-se.
Ele está agora ligado a um outro corpo que passa a ser parte dele mesmo.
Isso não acontece nem por decisão racional, nem por convicção religiosa, nem por um mandamento ético.
É o jeito natural de ser do meu próprio corpo, movido pela solidariedade.
Pela magia do sentimento de solidariedade meu corpo passa a ser morada do outro.
É assim que acontece a bondade.
O menino me olhou com olhos suplicantes.
E, de repente, eu era um menino que olhava com olhos suplicantes...

terça-feira, 25 de maio de 2010

O amor deixa muito a desejar


Fui ver o lindíssimo filme do Pedro Almodóvar, o Fale com Ela (Hable Con Ella), e saí pensando num conto de Carson McCullers, onde um homem conta que, antes de amar de novo uma mulher, ele estava aprendendo a amar as pedras, as árvores, as nuvens...
Nesse grande filme de Almodóvar, vemos amores raros, feitos de entrega, como uma ‘doação ilimitada a uma completa ingratidão’, como escreveu Drummond, aliás, o poeta do amor impossível, que é o único e verdadeiro amor.
A vitória do Lula também foi uma fome de amor político contra a era da técnica racionalista. Seu governo pode virar até um crime passional ou um folhetim melodramático, mas, hoje, é um grande desejo de happy end para todo o povo. Por isso, pergunto: onde anda o amor? Até isso o mercado estragou? Sim. O amor já teve uma magia de inutilidade deliciosa, já foi um desafio ao dia-a-dia que nos tirava da vida comum.
Hoje o amor, como tudo, está perdendo a transcendência. Não existe mais o amante definhando de solidão para enfim, após a tempestade, esticar-lhe a espinha; nem pactos de morte, não existe mais o amor nos levando para uma galáxia remota, não existe mais a simbiose que nos transportava a uma eternidade semi-religiosa. O amor tinha uma fome de proteção à pessoa amada. Isso está acabando. O amor já foi analisado por todas as ciências, a psicanálise mapeou as loucuras que estão sob sua poética, o ritmo do tempo atual acelerou o amor, o dinheiro contabilizou o amor, matando seu mistério impalpável. Hoje, temos controle, sabemos porque ‘amamos’, temos medo de nos perder no amor e fracassar no mercado. O amor pode atrapalhar a produção.
Por isso, o filme de Almodóvar é tão belo e oportuno. Temos de fazer filmes assim, sem efeitos, sem denúncias. Se eu, um dia, filmar de novo vai ser para celebrar o silêncio dos amantes ou a beleza do inútil. O amor perdeu a gratuidade, as pessoas ‘amam’ por desejo de ter um amor que não sentem mais. O amor não tem mais porto, não tem onde ancorar, não tem mais a família nuclear para se abrigar, não tem mais a utilidade do sacrifício pelo ‘outro’. O amor ficou pelas ruas, em busca de objeto, esfarrapado, sem rumo. Não temos mais músicas românticas, nem o lento perder-se dentro de ‘olhos de ressaca’. Não se diz mais: ‘Deus sabe quanto amei...’, mas ‘Deus nem sabe quantos (as) amei...’
A publicidade devastou o amor, falando na gasolina que eu amo, no sabonete que faz amar, na cerveja que seduz. Há uma obscenidade flutuando no ar o tempo todo, uma propaganda difusa do sexo impossível de cumprir. Como atingir um orgasmo pleno e definitivo? A sexualidade total, por si só, levaria à uma assexualidade desértica. A sexualidade é finita, não há mais o que inventar. Já o amor, não... O amor vive da incompletude e esse vazio justifica a poesia da entrega. Ser impossível é sua grande beleza. Claro que o amor é também feito de egoísmos, de narcisismos mas, ainda assim, ele busca uma grandeza - mesmo no crime de amor há um terrível sonho de plenitude. Amar exige coragem e somos todos covardes.
Mas, hoje o mercado exige a satisfação total no amor ou o dinheiro de volta. Como isso é impossível, deriva para o sexo ou para a sedução. O amor passa a buscar não mais uma entrega, mas um domínio. O amor vira um objeto de consumo, ‘fast love’, com obsolescência programada para durar pouco. O amor deixa muito a desejar; nos dias de hoje ele é dramático, perde o equilíbrio diante do ‘amor’. Em geral, o amor existe hoje como uma espécie de adoçante para justificar, legitimar uma tesão ou uma conquista. Os amores duram três edições de Caras. Os casais se perpetuam num troca-troca rápido e quantitativo.
Estamos com fome de amor cortês, num mundo em que tudo perdeu aura. O terrível bombardeio que a cultura americana está fazendo nos sentimentos é invisível, e pior que as bombas contra o Iraque. A cultura americana está criando um ‘desencantamento’ insuportável na vida social. Tudo é tolerável, num arrasamento de mistérios. Vejam a arte tratada como algo desnecessário, sem lugar, sem uso; vejam as mulheres amontoadas na Internet, nuas, com números - basta clicar e chamar. Estamos com fome de infinito em tudo, na vida, na política, no sexo. Por isso o filme de Almodóvar, cheio de compaixão sussurrada, apoiada na trêmula beleza dos balés de Pina Bausch e no Caetano cantando um pranto dolorido, parece um segredo religioso, uma saudade inexplicável de alguma coisa que existe ‘aquém’, antes da vida.
Nos anos 60, liberdade sexual foi uma questão política. Hoje, podemos tudo, podemos casar até com jacarés ou macacos, sem escândalos, desde que não prejudique a produção. Mas, o que invisivelmente está virando uma nova necessidade política é o amor e seus subprodutos: compaixão, paz, justiça. Aposto que virá aí um novo ‘desbunde’, um novo movimento hippie, sem utilidade, mas sem melancolia auto-destrutiva, vêm aí marchas pelo amor, porque ninguém está agüentando mais somente ‘utilidade’ e ‘desempenho’, poder e sucesso. Estamos virando coisas. Precisamos aprender a amar de novo as pedras, as árvores, as nuvens, até chegarmos a nós mesmos... E acho que isso vai surgir na América, como foi nos anos 60 - a luta pelos direitos civis será agora a luta pela beleza da inutilidade.
(Texto de Arnaldo Jabor)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Simplifique sua vida


Tudo o que é belo tende a ser simples. Afirmação generalizante? Não sei. O que sei é que a beleza anda de braços dados com a simplicidade. Basta observar a lógica silenciosa que prevalece nos jardins. Vida que se ocupa de ser só o que é.

Não há conflito nas bromélias, não há angústia nas rosas, nem ansiedades nos jasmins. Cumprem o destino de florirem ao seu tempo e de se despedirem do viço quando é chegada a hora. São simples.

Não querem outra coisa, senão a necessidade de cada instante. Não há desperdício de forças, não há dispersão de energias. Tudo concorre para a realização do instante. Acolhem a chuva que chega e dela extraem o essencial. Recebem o sol e o vento, e morrem ao seu tempo.

Simplicidade é um conceito que nos remete ao estado mais puro da realidade. A semente é simples porque não se perde na tentativa de ser outra coisa. É o que é. Não desperdiça seu tempo querendo ser flor antes da hora. Cumpre o ritual de existir, compreendendo- se em cada etapa.

Já dizia o poeta: "Simplicidade é querer uma coisa só". Eu concordo com ele. O muito querer nos deixa complexos demais. Queremos muito ao mesmo tempo, e então nos perdemos no emaranhado dos desejos. Há o risco de que não fiquemos com nada, de que percamos tudo.
Aquele que muito quer corre o risco de nada ter, porque o empenho e o cuidado é que faz a realidade permanecer. O simples anda leve. Carrega menos bagagem quando viaja, e por isso reserva suas energias para apreciar a paisagem. O que viaja pesado corre o risco de gastar suas energias no transporte das malas. Fica preso, não pode andar pelo aeroporto, fica privado de atravessar a rua e se transforma num constante vigilante do que trouxe.

A simplicidade é uma forma de leveza. Nas relações humanas ela faz a diferença. O que cultiva a simplicidade tem a facilidade de tornar leve o ambiente em que vive. Não cria confusão por pouca coisa; não coloca sua atenção no que é acidental, mas prende os olhos naquilo que verdadeiramente vale à pena.

Pessoas simples são aquelas que se encantam com as coisas menores. Sabem sorrir diante de presentes simbólicos e sem muito valor material.

A simplicidade lhe capacita para perceber que nem tudo precisa ter utilidade. E por isso é fácil presentear o simples.

Dar presentes aos complicados é um desafio... Não sabemos o que eles gostam, porque só na simplicidade é possível conhecer alguém. Só depois que as máscaras caem pelo chão e que os papéis são abandonados a gente tem a possibilidade de descobrir o outro na sua verdade.

Eu gostaria de me livrar de meus pesos. Queria ser mais leve, mais simples.. Querer uma coisa só de cada vez. Abandonar os inúmeros projetos futuros que me cegam para a necessidade do momento. Projetos futuros valem à pena, desde que sejam simples, concretos e aplicáveis.

Não gostaria que a morte me surpreendesse sem que eu tivesse alcançado a simplicidade. Até para morrer os simples têm mais facilidade. Sentem que chegou a hora, se entregam ao último suspiro e se vão.

Tenho uma intuição de que quando eu simplificar a minha vida, a felicidade chegará em minha casa, quando eu menos esperar.

(Desconheço a autoria)

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Dia do aniversário da Aline


Hoje é um dia atípico no meu blog. Terei que blogar dois textos, um totalmente desconexo do outro, mas vou me explicar. Como não tenho tempo de escrever todos os dias, já deixo alguns textos que recebo ou que busco na internet, mas que tenham algo a ver comigo, já prontos para publicação. Quando chego ao escritório pela manhã e não tenho tempo de escrever ou não tenho nada meu escrito, só publico os textos que já estão prontos no rascunho.

Como todos os dias, hoje eu fiz assim, pois cheguei mais tarde, pois estava naquele meu tratamento pré-cirúrgico. Entrei, liguei o computador, liguei para os recados que já me esperavam e “CLICK” publiquei um texto da Rosana Braga que muito me fez pensar. Esse abaixo que se chama “Os buracos nunca deixam de existir”.

De repente, toca o celular e... PLIM. Como assim? É aniversário da loira e ela que me liga??? Não dei END porque ninguém merece END dia nenhum, muito menos em dia de aniversário. Simplesmente silenciei o telefone. Em seguida retornei. “Como assim??? No dia do seu aniversário sou EU que te ligo, oras!”

Daí, conversa vai, conversa vem, ela me fez um pedido especial, o qual jamais negaria num dia como este: pediu que eu blogasse algo que fosse lindo no meu blog, afinal era o dia dela. “Amiga, mas eu já bloguei hoje e o texto é sobre buracos!”. Ela ficou indignada com isso. Tentei até explicar que não era um texto feio, pelo contrário, eu mostrava o lado bom dos buracos. Ainda argumentei: “Amiga, é muito bom ter buracos!!!”. Mas nem assim adiantou. Ela queria um texto lindo no dia de hoje.

Pensei em colocar algo da Martha Medeiros (que ela adora), ou alguma explosão de felicidade da Clarisse Lispector (que já me disse um amigo ser minha irmã gêmea), ou ainda um poema bem lindo de Carlos Drummond de Andrade. Mas seria injusto da minha parte!

Poxa! Recebi uma cartinha especial no dia do aniversário dela, ela vive me paparicando, coloca textos sobre mim no dia do meu aniversário... é importante escrever algo pra ela nesse dia, principalmente depois da indignação causada pelos buracos. “Oh, amiga! Aproveite os buracos que tem e seja feliz!!!”

Então, Loira, o que eu tenho pra te escrever você está cansada de saber, mas vou escrever para que as pessoas também saibam, pelo menos, os freqüentadores do blog. Não garanto que ficará lindo, porque quando escrevo apenas quero me fazer sentir, não me preocupo muito com o belo.

Quero agradecer primeiramente a Deus por sua existência iluminada, que faz brilhar a vida de tantos que te rodeiam, trazendo um colorido todo especial. Agradecer também a Ele pela sua presença na minha vida, ainda mais você me considerando sua melhor amiga. Caramba!!! Dizem que “Deus dá o frio conforme o cobertor”, né? Se ele me deu você, essa nevasca em pessoa, isso torna-me uma pessoa quente, a própria chama acesa, alta e avassaladora. (Risos!). Brincadeira, amiga! Até os tormentos que já passamos foram de fundamental importância para a minha vida, e creio que para a sua também.

Não canso de dizer que os encontros (e até os desencontros) que temos pela vida são dádivas de Deus. Alguns são mais significativos que outros e você é desses, que marcou com profundidade e eternamente minha vida. Quantas vezes eu me cansei, pensei em largar mão de você, falei mal de você para as pessoas, me assustei com suas atitudes insanas...??? Foi horrível, amiga! Pode crer.

Mas ao mesmo tempo, foi maravilhoso ver o quanto você cresceu e o quanto me fez evoluir. Eu sou quase um Dalai Lama hoje. (Risos! Perdão, amiga. Hoje estou mais espirituosa que nos outros dias, afinal é seu aniversário). É muito bom também saber que, apesar do meu gênio difícil (pra não dizer ruim), você tem me agüentado esse tempo todo, com todo amor, carinho e dedicação que poucas pessoas sabem ter. É muito bom saber que eu tenho uma amiga de verdade, que está sempre pronta a estender sua mão e oferecer seu ombro quando precisamos.

O que eu mais gosto em você é o seu lado louco, o que mais me assustava, por sinal. Acho que foi exatamente nesse lado que nos afinamos mais. Aliás, nos afinamos em tantas coisas, mas a nossa intensidade no amor, nossos devaneios nas aspirações que a vida nos traz, nossa veia musical encantada... todas essas coisas que são vistas com total assombro e não entendidas pelos outros, é o que temos de mais comum entre nós.

Amiga, desejo que todos os seus objetivos se realizem e se precisar contar comigo como um esteio ou um degrau, estou aqui. Se precisar de alguém pra ficar perto, só por segurança, estou aqui. Se precisar desabafar algo que é só seu e você não quer dividir com mais ninguém, estou aqui (até porque sou lesada mesmo, vou esquecer loguinho. Não há ninguém melhor pra contar segredos do que pra mim.). Só não conte comigo pra ser desonesta com você, porque não acredito em relações que se constroem com inverdades e desrespeito. Amiga de verdade é aquela que te fala o que você precisa saber e não aquilo que você quer ouvir. E eu sou de Escorpião, né, amiga? Vem quente que eu vou fervendo.

Espero que você continue sendo essa pessoa alegre, cheia de insanidade, com muito besteirol, mas que no seu íntimo paire a paz que você tanto precisa e merece. Que o Universo te traga as repostas e o alento para sua busca constante de evolução. Amiga, pensa!? Você já foi um dinossauro!!! Agora é uma libélula! Pensa!? Se isso não for evolução, desconheço o real significado dessa palavra. O triste sou eu, amiga, que de dinossauro passei pra dragão. Vish! Haja estrada pra essa caminhada!

Continue sendo a minha estrelinha preferida, essa que irradia sua luz mesmo na escuridão. Você é muito especial pra mim! Deus te dê muito mais aninhos do que 45 (como você escreveu no e-mail), afinal eu vou viver 120 anos ainda. Mas, se um dia, por providência divina, eu for chamada mais cedo, estarei com você em todo momento, protegendo-a de todos os males e fazendo você sentir minha presença em forma de vento. (Obs.: No dia que estiver sem vento, pode ligar o ventilador, que serei eu do mesmo jeito, com a mesma intensidade. Risos...)

Ai, amiga! Hoje eu estou terrível. Sem chance de escrever algo belo mas, com certeza, muito verdadeiro. Amo você de todo o coração. Obrigada por existir na minha vida. Nossa jornada de amizade há de durar eternamente, algo de transcende a mente humana, sempre com muitas gargalhadas e sincronia.

Felicidade sempre! E tim-tim...

                  


Os buracos não deixam de existir


Se pensarmos na vida como um longo caminho, podemos fazer analogias interessantes. A começar pelos tão comentados obstáculos que temos de aprender a ultrapassar ao longo dos anos...

Uns maiores, outros menores, cada qual traz consigo seu nível de dificuldade, suas consequentes dores e seus preciosos aprendizados. Mas hoje quero falar, sobretudo, dos buracos. Alguns rasos, outros nem tanto. E existem também aqueles que, de tão profundos, quando caímos neles costumamos usar a expressão cheguei ao fundo do poço!.

É claro que ninguém gosta de cair em buracos. Por menores e mais rasos que sejam, no mínimo nos desestruturam e nos fazem perder o rebolado. Mas o fato é que eles fazem parte de todos os caminhos, de todas as pessoas, sem exceção, embora sejam sempre únicos.

O problema é quando alguém busca conhecimento, estuda e se sente tão crescido que passa a acreditar que isso é o suficiente para eliminar os buracos de seu caminho, para fazer com que eles simplesmente não existam mais. Iludido e enganado por si mesmo, ao se deparar com um, vai ter de lidar ainda com a decepção, a frustração e a sensação de que toda busca não valeu de nada!

Não caia nesta armadilha! Saiba de antemão que os buracos vão existir pra sempre. A diferença entre quem está consciente de si e de seu caminho e quem não está, é que o primeiro vai saber evitar o tombo desviando a tempo do buraco ou, pelo menos, levantar, sair dele e seguir em frente mais rapidamente e, tomara, menos machucado.

E tem mais: podemos perceber, com a repetição de nossas quedas, que muitos dos buracos de nossos caminhos são incrivelmente parecidos, justamente porque a função deles é nos ensinar a mais difícil de todas as lições.

Portanto, se sua lição mais difícil é aprender a ser menos teimoso, ou menos ansioso, ou menos inseguro, ou menos desconfiado, note bem: toda vez que você se distrai ou acelera o passo mais do que deveria, cai num buraco em que parece já ter caído inúmeras vezes antes.

Não é o mesmo! É outro! É novo! Ele se repete à frente para que você acorde e, a cada queda, consiga levantar com mais habilidade, e seguir em frente não reclamando e se lamentando por ter caído mais uma vez; não se criticando e se culpando por ter sido estúpido novamente. Não! Não há nenhuma estupidez na repetição do aprendizado, mas sim vivência, privilégio e sabedoria!

Assim, se você está agora no chão, se acabou de cair num buraco do seu caminho, não se sinta uma vítima e sim um escolhido pelo Universo para se tornar mais forte e mais preparado. Erga-se, mesmo doendo. Saia do buraco, mesmo chorando. E dê um passo à frente, e depois outro e outro, com a certeza de que pode ir bem mais longe...

Outros buracos virão. Novas cicatrizes ficarão cravadas em sua alma. E tudo isso será a prova de que você não veio como espectador e nem como coadjuvante de sua história. Você veio como protagonista e vai chegar até o fim com a dignidade de quem não apenas cumpriu o seu destino, mas o esculpiu com coragem, fé e atitude!

(Texto de Rosana Braga)

terça-feira, 18 de maio de 2010

Um dia por vez - 18/05/10 - Atitude de bem viver


Não sei que nome darei a esse texto, porque tantas coisas me assombram a mente que eu nem sei por onde começar.

Acho que apenas num ponto os seres humanos se igualam, algo que não temos controle e nada podemos fazer: na área da saúde. Não importa se temos carrões e contas gordas no banco, milhares de investimentos e empresas, vestimos roupas de marca, moramos em mansões, viajamos para o exterior, compramos jóias... quando pensamos no corpo, na saúde, somos iguais a qualquer mendigo de rua, qualquer pessoa de vida limitada, de qualquer classe social.

Quando se fala em câncer, então, é infalível. Alguns dizem que a causa do câncer são os ressentimentos somados pela vida, algumas pesquisas mostram que alguns hábitos alimentares podem ser fatais, ou a falta de ingestão de alguns alimentos, ou a falta de atividade física... sei lá. São muitas as especulações que nos cercam dia-a-dia sobre o tema, mas não existe uma cura e sim milhares de linhas de pensamento e tratamentos diferentes - nenhuma confiável de fato.

O câncer não escolhe. Cansei de ver pessoas com muito dinheiro, se cuidarem a vida toda e morrerem de câncer, muitas vezes com menor tempo de vida do que alguém que mal tem o que comer e que definha anos e anos esperando em cima de uma cama uma consulta do SUS para uma sessão de quimioterapia.

Vamos apenas citar alguns casos. Leandro, da dupla Leandro e Leonardo. Uma vida na fazenda, aparentemente saudável, com muitos irmãos que nunca apresentaram nenhum tipo de problema mais grave, de repente, descobre um câncer na cabeça, faz todos os tratamentos mais caros e ditos eficazes da época e morre em dois meses.

Minha avó paterna, também de vida simples, já com mais 60 anos descobriu um câncer nos ossos, o qual não tinha dinheiro para tratar e este, por um milagre, ficou paralisado por 14 anos e ela viveu muito mais do que isso.

Conheço também uma família que já perdeu muita gente com câncer, de idades diferentes e regiões afetadas diferentes. É como se fosse uma maldição, fazendo todos ficarem sempre alarmados com o menor sinal de doença.

Há também casos como Ana Maria Braga, que saiu curada por Nossa Senhora (como ela mesma diz) ou José de Alencar, que vive numa busca incansável de sua cura, passando por várias cirurgias e até tratamento no qual tem servido de cobaia, afinal, tudo que ele sabe é que quer continuar vivendo.

Estou fazendo um tratamento de anemia pela segunda vez, onde tenho que tomar ferro na veia dia sim, dia não. Então, vou pro ambulatório do hospital, deito numa cama e me sinto muito privilegiada diante daquelas pessoas. Vão entrando pessoas e se deitando nas camas ao meu lado, algumas completamente carecas, outras quase sem voz, outras ajudadas pelo acompanhante, outras muito alegres... e eu fico ali pensando na vida de cada uma dessas pessoas e, claro, agradecendo a saúde que tenho.

Fico me perguntando se será câncer ou um simples tratamento pré-cirúrgico como o meu. Sendo câncer, em qual parte do corpo, em que estágio, se já passou por cirurgias para retirada do tumor ou quantas foram. Observo a paciência e o carinho dos acompanhantes e enfermeiros, as palavras de otimismo, as brincadeiras entre eles, fazendo o uso de um cateter se tornar um grande presente, pois muitos já não têm mais veias para a injeção dos medicamentos.

Então fiquei pensando se o que muda é a fé ou a atitude de cada um. Existe uma pesquisa que diz que pessoas que têm mais espiritualidade conseguem “milagres”, curas inesperadas, sustos médicos. Essas prolongam o tempo de vida e até conseguem a cura total Pode ser. Minha avó era uma católica fervorosa.

Também já vi casos de pessoas que nem tinham uma religião de fato, mas que eram alto astral, olhavam a vida de frente, com gosto e vontade de viver. Viviam com atitude de viver, a ponto de zombar das dificuldades que lhe apareciam pelo caminho. Escolheram a atitude de ser feliz, independentemente do que encontrassem pelo caminho, sendo feliz por nada, ou simplesmente pelo fato de acordar mais um dia.

Enquanto escrevo esse texto, “coincidentemente” (chego a me arrepiar), chegou uma mensagem que faço questão de transcrever. Acho que é uma excelente maneira de terminar esse texto.

“Uma mulher acordou uma manhã após a quimioterapia, olhou no espelho e percebeu que tinha somente três fios de cabelo na cabeça.
- Bom - ela disse - acho que vou trançar meus cabelos hoje.
Assim ela fez e teve um dia maravilhoso.
No dia seguinte ela acordou, olhou no espelho e viu que tinha somente dois fios de cabelo na cabeça.
- Humm... - ela disse - acho que vou repartir meu cabelo no meio hoje.
Assim ela fez e teve um dia magnífico.
No dia seguinte ela acordou, olhou no espelho e percebeu que tinha apenas um fio de cabelo na cabeça.
- Bem - ela disse - hoje vou amarrar meu cabelo como um rabo de cavalo.
Assim ela fez e teve um dia divertido.
No dia seguinte ela acordou, olhou no espelho e percebeu que não havia um único fio de cabelo na cabeça.
- Yeeesss...!!! - ela exclamou - hoje não tenho que pentear meu cabelo.

ATITUDE É TUDO!!!

Seja mais humano e mais agradável com as pessoas.
Cada uma das pessoas com quem você convive está travando algum tipo de batalha.
Viva com simplicidade.
Ame generosamente.
Cuide-se intensamente.
Fale com gentileza.
E, principalmente, não reclame.
Preocupe-se em agradecer pelo que você é e por tudo que tem!
E deixe o restante com Deus!”

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Mensagem de Ano Novo


Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um individuo genial...
Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui para diante vai ser diferente...

Para você,
Desejo o sonho realizado,
O amor esperado,
A esperança renovada.

Para você,
Desejo todas as cores dessa vida,
Todas as alegrias que puder sorrir,
Todas as músicas que puder emocionar.

Para você neste novo ano,
desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
que sua família esteja mais unida,
que sua vida seja bem vivida.

Gostaria de lhe desejar tantas coisas...
Mas nada seria suficiente...
Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto,
ao rumo da sua FELICIDADE.

(Texto de Carlos Drummond de Andrade)

Pertencer - Clarice Lispector


Um amigo meu, médico, assegurou-me que desde o berço a criança sente o ambiente, a criança quer: nela o ser humano, no berço mesmo, já começou.
Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça.
Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora, como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a Deus.
Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim. Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso.
Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de "solidão de não pertencer" começou a me invadir como heras num muro.
Se meu desejo mais antigo é o de pertencer, por que então nunca fiz parte de clubes ou de associações? Porque não é isso que eu chamo de pertencer. O que eu queria, e não posso, é por exemplo que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu pertenço. Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado em papel enfeitado de presente nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.
Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força - eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa.
Quase consigo me visualizar no berço, quase consigo reproduzir em mim a vaga e no entanto premente sensação de precisar pertencer. Por motivos que nem minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci e fiquei apenas: nascida.
No entanto fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que meus pais me perdoaram por eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande esperança.
Mas eu, eu não me perdôo. Quereria que simplesmente se tivesse feito um milagre: eu nascer e curar minha mãe. Então, sim: eu teria pertencido a meu pai e a minha mãe. Eu nem podia confiar a alguém essa espécie de solidão de não pertencer porque, como desertor, eu tinha o segredo da fuga que por vergonha não podia ser conhecido.
A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Sermão de casamento - Mário Quintana


"Em maio de 98, escrevi um texto em que afirmava que achava bonito o ritual do casamento na igreja, com seus vestidos brancos e tapetes vermelhos, mas que a única coisa que me desagradava era o sermão do padre:

"Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?"

Acho simplista e um pouco fora da realidade. Dou aqui novas sugestões de sermões:

- Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?

- Promete saber ser amiga(o) e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?

- Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?

- Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?

- Promete se deixar conhecer?

- Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?

- Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?

- Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?

- Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?

- Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja?

Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher: declaro-os maduros."

Status: Psicólogo

Ao psicólogo não é dado o martelo dos juízes, as prerrogativas dos promotores, nem o bisturi dos cirurgiões, somos pequenos clínicos ...