segunda-feira, 19 de abril de 2010

Torneira de letrinhas


Há muito tempo estou sem escrever meus textos loucos, lúdicos, recheados de questionamentos, que tudo tem a ver comigo e que, de repente, se encontram encubados em mim. Aqueles textos longos, cheio de fantasias, idéias, sonhos, realidades... aqueles textos que me despem a alma.

“Pode ser falta de tempo!” – explico para mim mesma, mesmo sabendo que o tempo é a gente que faz. Tempo para se fazer o que quer e o que gosta é apenas uma questão de organização. Pronto! É isso. Estou numa fase de desorganização interna total.

Nada se encontra no lugar: os pensamentos me vem como um vulcão em ebulição que jorra suas larvas tóxicas queimando tudo que vê pelo caminho, sem dó nem piedade. E me queima também. A vida se encontra fora de lugar porque percebo, de repente, não estou mais no controle da minha própria vida. Minhas fantasias e sonhos já não cabem mais em lugar algum, pois me permito decepar. Viver sem meus devaneios loucos é morrer um pouco a cada dia. A impossibilidade de materializar esses pensamentos então... é a materialização da própria morte. Portanto, estou desorganizada e totalmente fora do lugar.

Então, acordo com a sensação que essa desordem só aumenta à medida que abro mão de mim mesma, inclusive dos meus textos que também precisam jorrar para que toda essa coisa aqui dentro se organize.

Hoje resolvi abrir a minha torneira de letrinhas e deixar sair com toda força a água, o sentimento, as letras... tudo que se encontra em desordem e que, como mágica, no papel se organiza. Fica mais fácil entender, ler, sendo possível até surpreender.

Meu “sábio guru” me disse uma vez que a água representa sentimento, num certo desenho que ele pediu pra eu fazer. Fiquei encabulada ao perceber o excesso de sentimento que existe dentro de mim, constatados no enorme número de banheiros, numa banheira enorme e uma piscina em forma de ‘T’. Claro, né? Era a MINHA piscina.

Aí, fiquei pensando em colocar um pouco disso pra fora e me veio à mente a imagem de uma torneira, daquelas bem simples, de banheiro. Porém, ao invés de água, saiam letrinhas. Ainda bem que, embora fora de ordem, saiam letrinhas coloridas. Se fossem pretas ou cinzas seria o meu fim. Risos...

O engraçado é que, mesmo agora, quando já consigo escrever de novo, minha água não vai para o papel. Apenas letrinhas. Essas que você está lendo agora. A torneira está aberta, paro, penso, na tentativa de abri-la mais e... nada de água, muito menos vontade de expor meus sentimentos. Só letrinhas!

Só sei que não é por desorganização e sim por necessidade de silêncio. Meus textos, minhas letrinhas quando se ordenam me despem completamente. Por tanto escrever, de tanto falar, já estou com a bunda de fora.

Talvez seja hora de silenciar, de escutar as respostas que o Universo possa me trazer e aceitá-las, tentando sempre sentir mais meu coração, que hoje está triste e solitário, até por não conseguir compartilhar toda “água” existente nele.

Tenho tantas pessoas que posso recorrer: amigos, família, meu sábio guru, meu anônimo predileto... pessoas que me ajudam a organizar os livros da minha biblioteca mental que agora está muito bagunçada. Há livros jogados e espalhados por todo chão.

Minha água está ficando turva, como se houvesse um aquário que há muito tempo ninguém cuida. Quem passa por ele e olha, vê tudo muito lindo, a começar por estar num lugar perfeito, no melhor estilo “décor”, além de suas algas coloridas e seus peixinhos nadando e soltando borbulhas calmamente.

O que ninguém vê é que, quando não se cuida, o aquário parece continuar bonito e em perfeita harmonia, mas em seus cantinhos, em suas plantas, em suas pedras, vai juntando um lodo grudento, que quanto mais tempo se deixa aderir, mais difícil de limpar. E os peixinhos já não têm mais o oxigênio necessário para viverem saudáveis.

Sinto-me como se a vida tivesse pegado esse aquário, colocado uma tampa para lacrar e... balançou, balançou com toda força... pra cima, pra baixo, de um lado para o outro... e colocou de qualquer jeito em qualquer lugar.

E eu, meio sem querer, passei por ali e algo me chamou a atenção. Num ímpeto, olhei para o aquário, o qual está feio, bagunçado, sujo. As pedras formaram uma montanha de um lado só do aquário, as algas estão flutuando soltas e os peixes buscam um suspiro de vida, buscando ar na superfície da água, que agora se encontra cheia de ciscos e sujeiras, tornando-a embaçada.

Já que olhei pra ele, agora não tem mais jeito. Impossível simplesmente passar e não arrumar tudo isso. Preciso jogar fora toda essa água poluída, escovar pedrinha por pedrinha para tirar todo o lodo, limpar os vidros e os cantinhos, trocar as algas e, enquanto isso, colocar os peixinhos num recipiente com água limpa e em segurança, até que possam voltar a seus devidos lugares.

O que eu quero mesmo é poder faxinar esse aquário da melhor forma possível, sem muito alarde. Quero deixá-lo lindo de novo, mas em um novo lugar. Não quero colocá-lo na estante da sala em lugar privilegiado, onde todos que entrem na casa possam ver e fazer seus julgamentos. Acho que vou colocá-lo em qualquer outro lugar, pode ser até no meu quarto. Acho até que lá é um lugar melhor, pois vou olhar pra ele todos os dias, com mais cuidado.

E dentro vou colocar mais peixes, de outros tipos, pra mudar o cenário que se movimenta. Novos peixes farão companhia aos que lá já habitam. Mudarei também a cor das pedras, colocarei novos ornamentos e, a partir de agora, nunca mais quero deixar de olhar.

Um comentário:

  1. Miga,
    Que você limpe seu "aquário" e deixe ele translúcido, harmonioso, leve, lindo e protegido. Que esse seu novo aquário seja daqueles em que se pode passar horas e horas olhando e curtindo a beleza e a harmonia dos moradores. Que o seu aquário se transforme no mais harmônico ambiente, cheio de vida. Uma vida feliz e repleta das suas realizações.
    Amo você amor!

    ResponderExcluir

Status: Psicólogo

Ao psicólogo não é dado o martelo dos juízes, as prerrogativas dos promotores, nem o bisturi dos cirurgiões, somos pequenos clínicos ...