sexta-feira, 23 de abril de 2010

Semente


Pela manhã estava ouvindo Chico Buarque e não sei citar a música que eu ouvia enquanto meus pensamentos vagavam pelo tempo da minha vida... a que foi, a que é e a que ainda virá.

Fiquei pensando em muitas coisas: na minha infância, adolescência, fase adulta... nas realizações e decepções, as quais, sem perceber me trouxeram outras realizações. É aquela velha frase: “Às vezes, precisamos perder pra poder ganhar lá na frente”. Pensei no que eu acreditava e que hoje não tem mais o menor valor, nas crenças que me foram repassadas (vindas de outras gerações) e que por anos a fio defendi e vivi. Atestei para mim mesma como é boa essa fase dos 35 anos, onde as peças do quebra cabeças se encaixam. A gente só não sabe o que fazer com esse quebra cabeça montado, mas...

Na verdade, eu sei sim. Acho que agora é hora de procurar coisas novas, talvez um novo jogo. Não. O quebra cabeças é um jogo muito interessante e agora eu já sei que as peças nos vem no tempo certo e da forma mais exata. Então, acho que agora é hora de buscar novas peças, para no futuro montá-las novamente e continuar sempre brincando.

Fiquei também imaginando o porquê das coisas e porque não conseguimos ver as respostas que sempre estão a um palmo do nariz, mas que, por medo, por fuga ou simplesmente por não estarmos preparados, não enxergamos. A vida é sábia!

Veio-me então a imagem e a história da semente. Todos nós somos sementes e a historinha de todos é sempre a mesma, olhando sem prestar muita atenção: nascemos de algum ser vivo, germinamos, nascemos, crescemos, multiplicamos e morremos. Do pó ao pó, já diz a Bíblia.

Olhando mais atentamente, podemos perceber que apesar das histórias serem sempre as mesmas, na verdade são completamente diferentes. Uma semente pode vir uma flor, ou um fruto, uma planta, um ser humano... e sendo flor, pode ser rosa, tulipa, crisântemo, lírio... e sendo fruto pode ser manga, melancia, maracujá e ainda, cenoura, chuchu, pimenta... e sendo planta, pode ser trepadeira, samambaia ou grama esmeralda... e sendo humano, pode ser bonito, feio, alto, baixo, gordo, magro, pode ser gente de verdade ou um protótipo de gente que não deu muito certo.

E diante de tudo isso, somos sementes e nascemos no melhor tempo, seja ele verão, inverno, outono ou primavera... ou 1900, 1950, 1974, 2000... ou tempo de seca ou de chuva. Germinamos também sempre no lugar certo, seja em terra fértil ou no deserto, seja no Brasil ou na Alemanha, seja na sua família ou na minha.

Sendo sementes, precisamos querer crescer, multiplicar e muitas vezes precisamos de ajudas externas, como a luz do sol, o banho da chuva, uma conversa amiga, um conselho de família. Vamos captando toda essa energia de acordo com o que precisamos para dar um bom fruto. Acredito que esse é o grande X da questão. Mas daí, pensei: será que existe esse “X da questão”? Aos olhos de quem e pra que? E daí percebo que a questão não tem só um X, mas um alfabeto inteiro.

Tive uma sensação gostosa e um pensamento certeiro: sou uma semente. Apesar de já ter feito tanta coisa na vida, estou na fase de nascer (ou renascer). Talvez eu já tenha feito uma fase: já nasci, cresci, dei frutos e morri. Estou renascendo, para uma nova fase, onde me encontro aspirando pelo novo, por descobertas do que ainda não conheço, por experimentar o que achei que era feio e que, na verdade, entendi que o belo e o feio dependem dos olhos de quem vê. Sou minha outra semente de mim mesma.

Qual semente eu seria? “Uma cenoura” - pensei. Coelhinhos que são tão fofos as adoram. Mas não quero ser cenoura. Apesar de ser bonita, gostosa, ter uma cor quente e ser quase doce, não quero ser cenoura. Ela cresce pra baixo, cresce dentro da terra e pra ter sua finalidade, alguém tem que arrancá-la. Cenoura não.

Achei que eu tenho mais a ver com a rosa. Porque não quero crescer dentro da terra, quero crescer rumo ao céu. É ele o meu limite. E, apesar de bonita e cheirosa, pode ser de várias cores e tamanhos. Cuidado, porque tenho espinhos cortantes. Eles não servem para te machucar, mas pra me defender. É preciso me pegar com muito jeitinho, mesmo que seja para só cheirar. Preciso do sol e da chuva, mas preciso de cuidados de outrem, pois posso ressecar e morrer. Preciso também de algumas boas podas, para fortificar os novos frutos que florescerei. Dou diversos tipos de botões: uns maiores, outros menores, uns eu nem deixo abrir, outros me abro tanto, que perco minhas pétalas.

E como é bom sentir as borboletas, as abelhas e os beija-flores se achegando a mim. É quando realmente e definitivamente, atesto ao que vim: pra me doar, me deixar sugar para, mais uma vez, me encher de seiva e me deixar tocar, profundo, na alma.


Semente – Armandinho

Semente, semente, semente, semente, semente...
Se não mente fale a verdade,
De que árvore você nasceu?

Semente, semente, semente, semente, semente...
Se não mente fale a verdade,
De que árvore você nasceu?

De onde veio?
De onde apareceu?
Por que que o meu destino é
É tão parecido com o seu?
Eu sou a terra, você minha semente.
Na chuva a gente se entende, 
É na chuva que a gente se entende.

Semente, semente, semente, semente, semente...
Se não mente fale a verdade,
De que árvore você nasceu?

Semente, semente, semente, semente, semente...
Se não mente fale a verdade,
De que árvore você nasceu?

Semente, eu sei,
Tem gente que ainda acredita
E aposta na força da vida
E busca um novo amanhecer.
Lá vem o sol, e agora diga que sim
Semente, eu sou sua terra,
Semente, pode entrar em mim.

Semente, semente, semente, semente, semente...
Se não mente fale a verdade,
De que árvore você nasceu?

Semente, semente, semente, semente, semente...
Se não mente fale a verdade,
De que árvore você nasceu?

Se conseguir
Aquilo que você quer
E conseguir manter
A nobreza de ser quem tu é,
Tenha certeza
Que vai nascer uma planta
Que a flor vai ser de esperança
De amor pro que der e vier..

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