sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Superdotação e seu lado nada inteligente


Domingo  passou no Fantástico uma reportagem sobre um menino de 2 anos e meio de idade, de carinha alegre e brincalhona, como a grande maioria das crianças dessa fase, que tem o seu QI em 160, mesma medida de Albert Einsten.
Uauuu!!! É lindo, né? Matéria interessantíssima, muitos expectadores e, pela rua, as pessoas começam a comentar a novidade e até mesmo “invejar”, por não ter filhos assim. Crianças que aos olhos de tantos parecem ser melhores que outras e até mesmo que as nossas. Justiça seja feita: elas têm mesmo uma capacidade de raciocínio muito maior. Eu também sempre adorei esses casos sensacionalistas.

Até o dia que me deparei com o problema dentro da minha casa. Para mim ele era apenas uma criança muito inteligente, cheio de “saídas” espetaculares e questionamentos engraçadinhos. Pois é! Meu filho, um menino pra lá de especial, sensível, carinhoso, o presente mais esperado da minha vida, aos seus 3 aninhos de idade vai para a escola (fase em que as mães que se dedicam exclusivamente aos filhos, resolvem colocá-los para “se desenvolver”).

Foi quando comecei a perceber que ali havia algo de errado. Hoje entendo que ser diferente não é ser errado (ou certo), mas naquela época eu achava que aquilo definitivamente não era normal. Apesar do seu magnífico desempenho nas atividades cognitivas e escolares, a escola não conseguia “domar” a criança e, por conseqüência, quase me enlouquecia. Daí por diante, o mundo começou a desabar sobre a minha cabeça.

Eram reuniõezinhas diárias na escola com a diretora e as professoras, pois ele terminava primeiro o que lhes era proposto e atrapalhava o resto da turma, afinal, a escola não estava preparada para mexer com crianças nessa situação. Foi o primeiro a ler na turma, não porque era o mais inteligente, mas porque ele tinha aulas particulares com a coordenadora que o tirava da sala quase diariamente para que a turma pudesse manter sua ordem.

Foi encaminhado a uma psicopedagoga para uma avaliação psicológica. Foram várias conversas, brincadeiras e testes. Descobrimos várias coisas novas, as quais o pediatra já tinha mencionado, mas com essa idade não se fecha diagnósticos, portanto, deveríamos esperar até os 7 anos de idade, para que pudéssemos saber o que estava acontecendo de fato.

Mas não deu. Aos 5 anos, a coisa já estava totalmente descontrolada. Ele se tornou uma criança extremamente agitada, agressiva e ansiosa. E novamente encaminhamos à psicopedagoga, essa tão renomada e confiável da primeira avaliação, que nos encaminhou a uma neurologista infantil. Esta (igualmente competente), pediu alguns exames e o encaminhou para a neuropsicóloga para uma segunda bateria de testes, os quais muitos já tinham sido realizados pela psicopedagoga, confirmando os resultados.

Descobriu-se então a hiperatividade e a superdotação com uma média de QI de 136. Olha que não é nenhum Einsten, heim? Estes exames foram refeitos aos 7 anos de idade e, então, não havia mais o que contestar. E eu comecei minha pesquisa profunda sobre esses assuntos.

A primeira reação foi de orgulho do meu filho. “Nossa! Meu filho é um superdotado! Que máximo!”, mas logo que comecei a ler sobre o assunto, meu sentimento de pavor e cobrança própria aumentava imensamente. A neuropsicóloga me disse uma coisa que me marcou profundamente e para o resto da vida: “Filhos não tem problemas. Filhos tem mães. E, nesses casos, só há dois tipos delas: as que afundam seus filhos e as que alavancam.” Eu tinha que dar conta do recado, custasse o que custasse, mas eu tinha que alavancar esse meu filho tão amado, tão pequeno ainda, tão dependente de mim, esse que, por completa ignorância sobre o assunto, várias vezes ajudei a afundar.

Para quem não sabe, o fato da criança ser superdotada não quer dizer que ele vá ser o primeiro da sala e tirar 10 no boletim do começo ao fim. Pelo contrário, ele tende a ser um aluno bem mediano, porque ele só vai tirar 10 naquela área que realmente se interessa.

Além do mais, ela tem muita dificuldade em fazer amigos, porque ele se sente sempre diferente dos outros, é o “esquisito” da sala e até o chamam de mentiroso. Logicamente, isso o faz sentir inferior e começam ali seus bloqueios, medos e traumas. Você pode imaginar onde foi parar a auto-estima, né?

Acho que o melhor meio é sempre a informação e a orientação aos pais. E, se possível, esquecer o lado romântico e distorcido da superdotação. Seu filho é apenas um tantinho diferente. Não jogue suas expectativas em cima dele, nem o rotule, nem pra ele, nem perante os outros (seja quem for).

Então, revendo a reportagem do garotinho superdotado do Fantástico, fico imaginando quantos percalços esses pais e a criança ainda vão passar. Mas, penso como Fernando Pessoa... “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

2 comentários:

  1. nossa vc deveria esta tao confusa qnd tudo aconteceu,mas vc esta sendo tao humana dividindo sus experiencia e so tenho a agradecer, me abriu caminhos pelo menos de por onde eu tenho que começar...

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  2. Ual, Muito boa a Sua postagem gostaria que não só vc mas como todos que acessam o seu blog participassem, lessem e se podessem comentar a minha postagem sobre Superdotados e as outras também.
    Meu blog é:www.angelgabrielmag.blogspot.com
    não só ele como o blog do www.hiagotamashiro.blogspot.com contém muitos artigos interessantes que eu gostaria que lessem e comentassem, se puderem seguir também eu agradeço...
    Abraço pra todos vcs

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Status: Psicólogo

Ao psicólogo não é dado o martelo dos juízes, as prerrogativas dos promotores, nem o bisturi dos cirurgiões, somos pequenos clínicos ...